outubro 26, 2005

 
SNAKES AND LADDERS

Outro dia eu vi um anão pilotando uma motocicleta. Se a vida fosse um jogo, aposto que eu avançaria duas casas.

besuntado por Vitor Dornelles 23:15



outubro 25, 2005

 
E NÃO É QUE ROLOU MESMO?





A Reca foi ao mini-show do Kings of Convenience na praia de Ipanema e, logo mais, contará tudo em artigo exclusivo para o Repolhópolis™. Aguardem.

besuntado por Vitor Dornelles 22:19


 
DIA DE REIS





Eu tive que fazer uma escolha: ou assistia a Television e Elvis Costello, ou a Kings Of Convenience. Escolhi o último. Sim, e não vou ficar me explicando. Foi uma boa escolha.

Sem a pressão do dia anterior, chegamos ao Lab exatamente às 23h. O show atrasou quase uma hora novamente, mas como a tenda estava bem vazia ninguém reclamou. Sentamos no chão, na terceira fila. Só não ficamos na grade porque não quisemos. Logo começou o show de abertura.

Vanessa da Matta - A cantora só entrou no palco depois de ter cantado alguns versos da primeira música, ainda no backstage, mas com a banda no palco. Foi divertido ver o câmera da MTV procurando pela dona da voz que vinha do nada. Bem, fora isso, não tenho muito o que dizer sobre o show. Foi aquela coisa meio "Elba Ramalho do século XXI", com a presença supreendente de alguns fãs e direito a música dos "Saltimbancos" no meio. Só sei que foi a primeira vez no Festival que vi uma banda de abertura voltar pro bis. Eles tocaram uma música que já havia sido executada ("Não me deixe só"? É esse o nome?), mas a galera não se importou e cantou com vontade. Enfim. Meio neo-hippie demais pro meu gosto, mas não me agrediu.

Kings Of Convenience - Se houvesse um prêmio para "show mais fofo", este seria certamente o vencedor. No palco, apenas dois violões e um piano de cauda. A dupla sofreu no começo do show com a indiferença da parte de trás do público (a esta altura a tenda já devia ter mais de 2 mil pessoas), que falava sem parar e atrapalhava o retorno. Erlend Øye (misteriosamente sem os óculos e vestido de Salsicha - o personagem, não o alimento) era o mais falante, e pediu silêncio várias vezes às pessoas atrás. Não sendo atendido, dedicou a fantástica "I Don't Know What I Can Save You From" para a galera da frente. Aos poucos a dupla foi conquistando uma parte da platéia que não os conhecia (infelizmente houve alguns que não calaram a boca o show inteiro), principalmente depois que Erlend declarou o amor deles à bossa nova e o tímido Eirik Glambek Bøe, dono da voz principal, cantou "Corcovado" em português. "Eu não sei uma palavra de português", disse ele ao final da música. "Ficou bom?", ao que a platéia respondeu "Yeah!", levantando os dedos em sinal de aprovação.

Apesar de curto, o show foi marcado pela interação da dupla com a parte da platéia que estava interessada na música. Muito simpáticos, os noruegueses tocaram ainda "Singing Softly To Me", "Misread", "Toxic Girl", "Winning A Battle, Losing The War", entre outras. Um dos melhores momentos foi a versão voz, violão e palmas de "I'd rather dance with you", com direito a dancinha de Erlend. Durante o bis (droga, me esqueci o que eles tocaram no bis!), Erlend convidou a platéia para uma roda de violão hoje, terça-feira, em frente ao hotel em que estão hospedados, para comemorar o aniversário de Eirik. O público retribuiu cantando "Parabéns pra você" em portugês. No final, os dois desceram do palco e apertaram as mãos dos fãs, além de distribuírem alguns autógrafos.

Quanto ao show na praia, ninguém sabe se vai realmente acontecer. Como eles são noruegueses, acredito que estavam falando sério. Não vou poder ir, mas a Reca vai. Se realmente rolar, vocês ficarão sabendo.

Morcheeba - Saímos do gargarejo e fomos procurar um lugar mais perto da saída. Era impressionante a quantidade de playboys (ou de "fortinhos e escovadas", como chamou a Reca). O show começou, mas como não sou grande fã de Morcheeba, não me empolguei. Trip-hop bem tocado, e tal, mas não muito marcante. Perfeito para embalar as dancinhas da playboyzada e das muitas celebridades presentes (Cicarelli, Tony Garrido, Fausto Fawcett, Cláudio Manoel do Casseta & Planeta, só pra ficar nos que eu vi). Cansados, saímos no meio, não sem antes encontrar Eirik no meio da platéia. A Reca aproveitou para perguntar se esse negócio de convidar a galera para a praia em frente ao hotel era sério mesmo. Pelo visto era. Depois fiquei sabendo que Erlend estava no Village, sentado numa pizzaria, batendo papo com alguns fãs. São muito acessíveis esses noruegueses.

Saldo final? Três shows antológicos e um epílogo fofo. Ou seja: o melhor TIM Festival de todos os tempos, como eu queria demonstrar.

Agora baixem a música do Kings Of Convenience ("link válido por 7 dias e blá-blá-blá") e tenham um bom dia.

Kings Of Convenience - I Don't Know What I Can Save You From

****

p.s.: Se houver algum link quebrado, me avisem.

besuntado por Vitor Dornelles 02:46



outubro 24, 2005

 
DE VOLTA À FILA DO GARGAREJO





Nessa noite eu e Reca decidimos conseguir um lugar na primeira fila. Por garantia, chegamos ao MAM às 20h (o show estava marcado para começar às 23h). Havia umas 10 pessoas esperando a abertura da tenda. Resolvemos dar um volta antes, beber alguma coisa, aproveitar para ir ao banheiro, comprar CD. Voltamos e a fila continuava do mesmo tamanho. Nos juntamos aos gatos pingados e lá ficamos até a abertura dos portões, às 22h. Graças à nossa estratégia, foi bem fácil conseguir um lugar na grade. Ficamos quase no centro, um pouco à direita. Como não queríamos perder a visão privilegiada, decidimos que não arredaríamos pé de lá até a última música do Wilco. Ou seja: nada de ir ao banheiro por pelos menos 4 horas. Depois percebemos que, apesar disso, teria sido uma boa idéia comprar uma garrafa d'água.

Às 23h não havia o menor indício de que a banda de abertura entraria no palco. Quase uma hora depois, tenda lotada, a situação era a mesma. O público, revoltado, começava a vaiar a organização quando, à meia-noite, o Lado 2 Estéreo deu início aos trabalhos.

Lado 2 Estéreo - Após a primeira música, a dupla de guitarra e bateria, saída diretamente de Teresina, pediu desculpas pelo atraso e fez o trabalho da organização explicando que a demora ocorreu por causa dos shows no palco Club. Em seguida, continuaram com sua mistura bizarra de heavy metal e samba. Apesar da formação, eles não se parecem nada com os White Stripes. Na verdade, me lembraram o Death From Above 1979 (cuja formação consiste em baixo e bateria, e quem canta é o baterista). O público até aplaudiu as primeiras músicas - muito bem tocadas, por sinal - mas a impaciência da maioria dificultou as coisas para os piauienses. Quando o guitarrista anunciou a última música, muita gente comemorou. Uma pena. Foi um show competente e bastante interessante, pena que no lugar errado.

Arcade Fire - Mesmo tendo assistido à montagem do palco do Arcade Fire, eu não podia sequer imaginar o que estava reservado para a hora seguinte. Os roadies não paravam de entrar com instrumentos. Guitarras e mais guitarras. Acordeon. Teclado. Violoncelo. Capacetes. E a bateria, em que um pequeno projetor dava a impressão de haver dois agapornis presos dentro do bumbo. Quando eu menos esperava, os canadenses entraram no palco e o que se seguiu é impossível de descrever.

Começaram com "Wake Up", cujo coro pós-apocalíptico foi amplificado pelas vozes da platéia e pela barulheira generalizada que os integrantes da banda faziam, deixando a canção ainda melhor. Esta foi uma das principais caracaterísticas do show, aliás: todas as canções, que já são ótimas em disco, ficaram ainda melhores nas versões ao vivo. Mais encorpadas, mais épicas, mais teatrais. Em seguida, tocaram "Laika", para delíro da massa, e "No Cars Go", do pouco conhecido EP de estréia. Na quarta canção, "Haiti", já estava claro: eles são o "carrossel holandês" da música (a despeito de serem canadenses). Parecia que era pré-requisito ser multi-instrumentista para fazer parte da banda. Só o ruivinho de óculos tocou tambor, acordeon, teclado, um prato de bateria semi-destruído, guitarra, violoncelo e até a estrutura de metal do palco. A certa altura, o baterista foi tocar guitarra e Régine Chassagne, também conhecida como a "baixinha morena esposa do vocalista", que já havia tocado sabe-se lá quantos instrumentos, assumiu as baquetas. O setlist incluiu ainda "Headlights Looks Like Diamonds", uma versão soturna de "Aquarela do Brasil" (a mesma de Brazil, o filme), "Crown Of Love", "Tunnels" e "Power Out", emendada magnificamente em "Rebellion (Lies)", que encerrou o show e, a julgar pela reação do público, era mesmo a mais aguardada da noite.

Quem esperava um show indie e mala, com músicos imóveis, certamente supreendeu-se. Win Buttler e companhia tocaram com empolgação genuína, e terminaram esvaídos em suor - especialmente o irmão mais novo de Buttler, William, que corria ensandecido pelo palco, não importava qual intrumento estivesse tocando, e perto do fim do espetáculo (não há palavra melhor para definir a apresentação) se pendurou na estrutura de metal para bater as mãos na parede. Em suma, um showzaço - apesar da curta duração e de não terem tocado "Une Anée Sans Lumiere". Superou todas as minhas expectativas. Até a Reca, que mal conhecia a banda, ficou estupefata.

Wilco - Depois do show avassalador do Arcade Fire, o Wilco tinha um trabalho difícil pela frente. Para nossa sorte - e êxtase coletivo -, eles tiraram de letra. Mesmo focado nos dois últimos discos (Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost Is Born) e esquecendo quase por completo a obra-prima Sumerteeth (tocaram apenas "Shot In the Arm" e "Via Chicago"), o show foi antológico. O que se viu foram, novamente, versões ao vivo mais poderosas do que as de estúdio, um show repleto de guitarras e eventuais barulhinhos de teclado, com músicas como "War On War", "Jesus, etc.", "Hummingbird", "I Am Trying To Break Your Heart", "At least What You Said" e "Handshake Drugs" revigoradas.

Jeff Tweedy, um pouco mais gordo e envelhecido do que na turnê do YHF, foi simpaticíssimo e tinha a platéia nas mãos. Lá pelo meio da apresentação, fomos brindados com uma música nova, "Walken", que de tão boa só faz aumentar a expectativa pelo próximo disco dos americanos. Já no bis, mandaram "Heavy Metal Drummer" e - supresa! - duas músicas seguidas do magistral Being There (que só tinha aparecido com "Misunderstood"): "Monday" e "Outtasite (Outta Mind)" (por esta última NINGUÉM esperava). Fecharam com "I'm A Wheel".

Eu já estava com um sorriso de orelha à orelha quando, após insistentes pedidos do público, eles voltaram para o segundo (e aparentemente não programado) bis. Jeff Tweedy disse "You are very lucky!" antes de executarem os primeiros acordes de "I Shall Be Released", música do Bob Dylan eternizada pela The Band. Um final emocionante, digno do melhor show do festival. Aliás, "show" é pouco: foi mais uma experiência mística do que qualquer outra coisa.

Após oito horas e meia, das quais cinco foram passadas em pé e sem água, a satisfação era total. Estávamos quebrados, porém embevecidos. Se aquilo era um sonho, que continuássemos dormindo.

Abaixo, três downloads válidos por 7 dias ou até esgotarem nossos estoques.

The Arcade Fire - Wake Up

Wilco - Outtasite (Outtamind)


Wilco - Walken (Live)
(para vocês terem uma pálida idéia do que é a música nova)

****

Ah, sim, quase ia me esquecendo: No final do show, já saindo da tenda, quem eu encontro? Caetano Veloso, claro. Vulgarizou.

****

Daqui a pouco, o último dia.

besuntado por Vitor Dornelles 23:18



outubro 23, 2005

 
PRÉVIA

Este é oficialmente o melhor TIM Festival de todos os tempos. Absolutamente fantástica a noite de ontem. Detalhes em breve.

besuntado por Vitor Dornelles 13:51



outubro 22, 2005

 
CAETANO É FÃ DE STROKES





Eu não costumo fazer isso, mas este ano vou escrever sobre o TIM Festival. Talvez por esta ser a primeira vez em que vou aos três dias do evento. Ou talvez porque o Bruno sugeriu. Enfim. A verdade é que eu odeio escrever sobre música. Este é o real motivo da constante demora na atualização das "ninfetas virgens amadoras", mais até do que o meu esquecimento. Eu gosto de música, claro, como os mais sagazes já perceram há tempos. Mas escrever sobre é um suplício para mim. Não gosto dos meus textos sobre música. Não, não é uma auto-crítica exagerada. Na verdade eu não gosto dos textos sobre música de quase ninguém. Se eu tivesse poder para isso, criaria um órgão mundial que determinaria um número específico de pessoas que estão autorizadas a escrever sobre música ao redor do mundo. Seria um esquema meio ABL: só entra membro novo quando um antigo morrer (ou ficar incapacitado de escrever). Vai por mim, o mundo seria um lugar bem melhor.

Como isso nunca vai acontecer, agüentem. Prometo que serei breve.

Mundo Livre S.A. - Cheguei atrasado. A banda estava tocando "The Guns Of Brixton" (The Clash) enquanto eu ganhava a pulseirinha. A música acabou assim que comprei uma cerveja, e Fred 04 começou a falar abobrinha sobre o referendo. Depois, emendaram mais umas quatro ou cinco músicas ("Bolo de Ameixa" e "Livre Iniciativa" entre elas) e acabou. Mas os poucos minutos de show a que assisti foram ótimos.

Kings Of Leon - Alguém aí conhece um fã de Kings Of Leon? Eu achava que fosse tão raro quanto fã de Urge Overkill, mas a noite de ontem provou que eu estava errado. Ou então dei muito azar e fiquei justamente atrás do fã-clube da banda de Nashville. Devia ser um fã-clube muito fracassado, pois eles estavam no meio da platéia, e não espremidos na grade. Mas, bem, o show. A banda entrou no palco e mandaram de cara "Molly's Chamber", o único hit, que tocou nas rádios daqui e tudo. A massa foi ao delíro e... acabou. Quer dizer, acabou só pro resto do público, porque os sujeitos na minha frente continuavam cantando todas as músicas e tendo ataques epiléticos. Foi um show médio. Morninho. Com umas musiquinhas mais ou menos. Não chegou a ser ruim. Enfim, vocês entenderam. Kings Of Leon é o tipo de banda pela qual ninguém deveria ter sentimentos exarcebados. Sem contar que os caras estavam sem barba. Que espécie de banda de rock sulista é essa que não tem barba? Mas, ok, melhor parar antes que eu comece a atrair fãs indignados. Com essa gente não se brinca.

Caetano Veloso - No finalzinho da apresentação do Kings Of Leon, olho pro lado esquerdo e vejo o Caetano a três pessoas de distância. Ou alguém muito parecido. Comento com a Reca, ela diz que eu viajei. Olho de novo, fico na dúvida, olho mais uma vez e tenho certeza. O show acaba e todas as pessoas em volta começam a tirar foto com Caetano. Fico até com pena. O coitado tenta, mas não consegue sair do lugar. Depois de um tempo, some na multidão. Coisas que só acontecem no Rio de Janeiro.

Strokes - Obviamente, a banda mais esperada da noite. Inclusive por mim e imagino que pelo Caetano também. Abriram com "Hard To Explain" e mandaram "Someday" na seqüência. A platéia já estava rendida. Tocaram tudo o que tinham que tocar. No caso dos Strokes, isso se converteu num show de quase duas horas. Setlist absolutamente perfeito (é uma banda que sabe fazer hits, afinal), com direito a cinco músicas do próximo CD, First Impressions Of Earth (Julian Casablancas meio que pedia desculpas ao anunciar cada nova canção), e a dois bis - no primeiro deles quase fizeram a tenda vir abaixo com "Reptilia" e "New York City Cops". Quem tiver a chance de ver um dos outros shows, não perca. Foi uma experiência inesquecível até para quem aprecia a banda moderadamente como eu. Excelente. Mesmo.

Mas, calma, ainda não acabou! No link abaixo vocês podem fazer o download de uma das músicas novas dos Strokes que já estão circulando na internet. É só clicar. O link vale por 7 dias ou até esgotarem nossos estoques.

Strokes - You Only Live Once

E que venham Arcade Fire e Wilco. A expectativa está nas alturas.

besuntado por Vitor Dornelles 15:47



outubro 21, 2005

 
MEA CULPA

A Reca me chamou a atenção para como o post abaixo está com cara de... blog. Ok, ok, eu sei que isto aqui é um blog, mas, poxa, vocês entenderam: o tipo de post que comenta uma notícia recente, num tom meio revoltadinho, com o último parágrafo cheio de lição de moral.

Pois é.

Eu odeio esse referendo.

besuntado por Vitor Dornelles 12:30



outubro 19, 2005

 
AGONIZA MAS NÃO MORRE

Eu não ia mais tocar no assunto, mas não deu. Tinha que comentar a capa de ontem dO Globo. Exemplifica perfeitamente o que eu chamei de "edição tendenciosa" no post abaixo. Uma notícia que, se os tempos fossem outros, provavelmente ficaria relegada a uma página par da editoria de polícia - e isso na melhor das hipóteses, pois é bastante provável que nem saísse - ganha um destaque absurdo na capa do jornal.

Percebam a escolha de palavras: não foi um estudante que matou outro estudante, mas um "tiro". O fundamental é ressaltar que o crime (ou acidente) foi cometido por uma arma de fogo, esta ferramenta maligna criada por satanás. Não é à toa que o próprio disparo se tornou o sujeito da oração. Reparem também no tamanho da foto da vítima, estudante de um bairro pobre de São Paulo. Se não estivéssemos às portas do referendo, e se O Globo não fosse um dos maiores defensores do SIM, um estudante assassinado em um bairro pobre de São Paulo ganharia tamanho destaque num jornal de elite do Rio de Janeiro? Claro que não. Entendo que O Globo queira defender o seu lado, mas esse tipo de edição é puramente demagógica. E nojenta.

Se a proibição for aprovada, assassinatos em escolas - foram cinco este ano em São Paulo, número bem pequeno se comparado ao total de mortes por armas de fogo no resto do país - vão diminuir? É provável que sim. Mas é realmente necessário proibir a venda de armas para atingir esta meta? Eu duvido.

Proibir deve ser sempre o último recurso. Depois que tentarmos de tudo, aí sim podemos discutir a proibição. O problema é que nós sequer começamos a tentar. E já queremos curar resfriado tomando antibiótico.

besuntado por Vitor Dornelles 02:17



outubro 12, 2005

 
CHARLES BRONSON É MEU PASTOR





Recebi uma carta da Associação Brasileira de Blogs (ABB). Era uma ameaça. Dizia que se eu não fizesse um post sobre o referendo até a véspera do dito-cujo, "sérias providências" seriam tomadas. Apesar de desconhecer a entidade até aquele momento, preferi não arriscar. Portanto, agüentem mais um pitaco irrelevante e que ninguém pediu sobre a proibição do comércio de armas de fogo (por favor, parem de chamar de desarmamento - são duas coisas diferentes). Desculpaí qualquer coisa e reparem em como os parágrafos não têm relação entre si.

Algum tempo atrás, declarei que era contra o desarmamento da população civil. Mantenho minha opinião e estendo-a à proibição do comércio de armas de fogo. Quando digo isso, as pessoas costumam me olhar como se eu fosse o Charlton Heston. Aparentemente, ser contra a proibição me torna automaticamente um entusiasta de espingardas e revólveres. Não adianta explicar que eu nunca peguei numa arma na vida, e nem pretendo, e muito menos que sou a favor de um controle rigoroso na venda de trabucos. Não. Ser contra a proibição do comércio de armas é o equivalente a ser a favor da guerra e da morte de criancinhas. A sutileza, obviamente, mandou lembranças.

Impressiona como os dois lados da disputa carecem de argumentos e de tons de cinza. Para os defensores do SIM, os contrários à proibição são a encarnação do mal, enquanto eles próprios são os fodões que defendem a paz (e existe alguém que não defenda?). Já os partidários do NÃO enxergam a galera "sou da paz" como um bando de covardes mariquinhas que tem medo de meter bala, e vêem a si mesmos como os fodões justiceiros que vão dar cabo da bandidagem. Desse jeito fica até difícil escolher um lado. Só não voto nulo porque a terceira via é liderada pelo Caetano Veloso.

O problema é que estamos nos desviando do foco do referendo. Primeiro de tudo: por que a proibição foi proposta? Parece-me óbvio que foi por causa da violência crescente nas áreas urbanas. A pergunta seguinte, pela lógica, deveria ser: a proibição vai resolver esse problema? Parece-me igualmente óbvio que, não, nem fodendo. Ou alguém pode me dar exemplos de países que reduziram drasticamente a violência somente com a proibição da venda de armas? Não, né? Violência existe desde muito antes da invenção das armas de fogo, é gerada por uma série complexa de fatores e prescinde de pólvora para continuar existindo. Portanto, sob este aspecto, a discussão sobre proibir o comércio é irrelevante. Então por que ainda estamos discutindo?

Outro dia conversava com um amigo dos tempos de colégio, pessoa inteligente e bem informada, e nosso papo acabou chegando na proibição. Ele concordava comigo a respeito da impossibilidade de se reduzir a violência com uma canetada, mas dizia que votaria SIM porque tinha que levar em consideração as crianças que morrem por acidente, e as discussões de marido e mulher que acabam em tragédia. Esse argumento das criancinhas balança muita gente. Mas quantas crianças morrem, efetivamente, vítimas de acidente com arma de fogo, anualmente no Brasil? Não sei o número correto, mas é muito pequeno, ainda mais quando comparado às outras ocorrências. Não seria mais fácil simplesmente educar os portadores de arma? Afinal, vocação de criança é fazer merda. Se você deixar um frasco de detergente dando sopa, quer apostar quanto que a criança vai entornar goela abaixo? O mesmo vale para as armas. É só não deixar a sua dando mole. É tão difícil assim? Precisa mesmo proibir por causa disso?

Rebater o argumento da briga de marido e mulher foi mais fácil ainda. Desde quando marido ciumento precisa de arma para matar? No calor do momento ele não pode simplesmente empurrar a esposa pela janela? E se aumentam os casos de esposas defenestradas? O que fazemos? Proibimos as janelas? E quando não houver mais janelas? As mãos também são armas letais, não podemos nos esquecer. O que fazer? Cortar as mãos dos maridos ciumentos? Por via das dúvidas, vamos logo cortar as mãos de todo mundo. É também uma maneira de não precisarmos votar nesse referendo estúpido.

Como sempre, é mais fácil culpar as ferramentas. Daqui a pouco vão dizer que o tráfico de drogas só existe por causa das armas de fogo. E do RPG. E dos consumidores de drogas. Principalmente, ah, principalmente por causa dos RPGistas cocainômanos que andam armados! Malditos sejam todos eles!

Mas onde eu estava mesmo? Ah, sim, o referendo. Pois então. A minha birra toda é simplesmente com a proibição. Por que revogar um direito que nem é, assim, um direito pleno, já que não é qualquer mané que pode comprar uma arma de fogo pelas vias legais? A História está coalhada de exemplos de proibições que deram errado. Se há demanda, proibir só piora as coisas. Não sou eu quem está dizendo. É a História. Vai discutir com a História? Agora, me mostrem os exemplos de proibição de comércio que deram certo e não geraram contrabando nem mercado negro. Hum... Difícil, hein?

O que eu percebo nos partidários do SIM é uma crença quase religiosa na proibição da venda de armas como passo fundamental para a PAZ (assim mesmo, em maiúsculas). Não há absolutamente nada garantindo que a proibição vá reduzir a violência, ou que sequer vá contribuir para a PAZ. Mas o partidários do SIM não precisam de evidências. Eles têm fé.

Os partidários do NÃO também não ficam atrás. Eu me envergonho de ter que dividir o meu voto com o MV Brasil, por exemplo (o movimento do "Resistir é preciso!", uma das maiores babaquices da história nacional), que espalha por aí cartazes com os dizeres "Entregue sua arma e torne-se um escravo". Ora, façam-me o favor. Infelizmente, o lado do NÃO está cheio de facistóides e malucos com síndrome de Charles Bronson. Quero deixar registrado que não compartilho da opinião desse tipo de pessoa. Eu voto NÃO por um motivo bem simples: liberdade. Não há nada que eu preze mais do que a liberdade. Se o cidadão tem condições de ter uma arma, se é responsável pelos seus atos, pessoa capaz e equilibrada, não compreendo por que diabos ele não PODE ter uma arma. Porque o Estado disse? Isso não faz sentido. Senão, deixe-me ver: deste lado temos o cidadão-modelo-hipotético, que gostaria de ter uma arma, sabe-se lá por que motivo, e não representa perigo à sociedade e nem a si mesmo, mas não pode ter uma arma porque o Estado disse que não, porque não e pronto. Já do outro lado temos policiais e seguranças terceirizados, todos com porte de arma legalizado pelo mesmo Estado, que fez jóinha e disse amém, uma vez que, como todo mundo sabe, policial e segurança é tudo boa gente, que não faz essas coisas feias de vender arma pra bandido. Ó, mas que maravilha, não? Agora vivemos numa sociedade sem violência! Só falta trancarmos todas as crianças em cofres, para elas não correrem risco de beber detergente ou de levar choque na tomada, e começarmos a pensar no próximo referendo: pela proibição do comércio de carros! Afinal, como todo mundo sabe, além de poluir a atmosfera, carros são verdadeiras armas.

Já a cobertura da imprensa sobre o referendo tem sido vergonhosa. O debate simplesmente não existe. Cada veículo escolheu um lado (o SIM é o preferido) e dele não arreda pé. A Veja, apesar de ser uma revista escrota e nem um pouco santa, pelo menos teve culhão o suficiente para defender o NÃO (mais do que isso: apontar o referendo como o engodo que ele é). Em compensação, ler O Globo na últimas semanas vale por uma aula de edição tendenciosa (o que é praticamente uma redundância). Não apenas todos os colunistas são favoráveis ao SIM (Ancelmo Góis vive chamando o outro lado de "Partido da Bala"), como em praticamente toda primeira página há referência a armas. Geralmente no papel de vilãs com vontade própria. O pior caso foi a manipulação de uma pesquisa mostrando a origem das armas dos bandidos. Segundo a matéria dO Globo, mais de 70% eram de origem legal. Só que eles incluíam nessa contagem os mais de 30% de armas com origem desconhecida. Que, até que se prove o contrário, não são de origem legal. E, mesmo que sejam, faz mesmo alguma diferença? Se não for com revólver, vai ser com florete, amiguinhos. Ou com catapultas. Ia ser legal ressuscitarem as catapultas.

O principal equívoco dos que são a favor da proibição é misturar dois conceitos distintos. O primeiro: "armas são feias e não deveriam existir". Até aí, eu concordo. Ainda que as armas tenham exercido papel evolutivo fundamental, sem o qual dificilmente teríamos saído das cavernas para ir falar abobrinha na internet, acredito que uma sociedade evoluída dispensará o uso de armas. Talvez exista uma ou outra arma não-mortífera, se ainda houver necessidade de instrumentos de controle. Vai depender do nível de evolução e tem que acontecer naturalmente, não pode ser imposto. Mas põe aí uns 10 mil anos - sendo otimista - para chegarmos nesse estágio.

O segundo conceito: "armas são feias e votar SIM no referendo é o primeiro passo para acabar com TODAS ELAS!" Ok, é aí que a porca torce o rabo. Como assim, meu filho? Você realmente acredita nisso? E em Papai Noel? Também? Ok, então um referendo é o primeiro passo para viver numa sociedade mais segura e com menos armas. Ah, tá. Um referendo. NO BRASIL. I rest my case.

Eu juro que gostaria de compartilhar da euforia da galera do SIM, de sacudir bandeirinhas brancas, fazer o símbolo da pomba da paz e ficar gritando Basta! por aí, para depois ir dormir pensando em como eu tornei o mundo melhor. Mas não dá, cara. Talvez eu seja muito cético. Eu não votei no Lula. Nem no Serra.

****

Claro que toda essa explanação sobre por que eu vou votar NÃO foi só para eu parecer cool e racionalzinho. Na verdade, o meu motivo é outro. Pouco comentado, porque ninguém tem coragem de falar sobre, mas nada, nadinha mesmo desprezível. O fato, meu camaradinha, é que depois da Grande Epidemia quem não tiver uma arma vai estar lascado. Se eu fosse você, começava a praticar ONTEM.

besuntado por Vitor Dornelles 02:13


 
LÁPIS DE COR





Já colori o meu unicórnio. Cadê a porra da tirinha?

besuntado por Vitor Dornelles 01:31



outubro 08, 2005

 
EVERY TIME YOU CLOSE YOUR EYES





É jogo rápido, porque já estou mais do que atrasado na realização da minha proposta. O download da vez nas "ninfetas virgens amadoras" é a banda canadense The Arcade Fire, com o clipe de "Rebellion (Lies)" (melhor música do Funeral, na minha humilde opinião). Um tanto mórbido, se eu entendi direito. Mas é bacana. Cliquem lá em cima e boa diversão.

besuntado por Vitor Dornelles 01:10



outubro 03, 2005

 
CLUBE DE GO





Faltando poucos dias para acabar, e com a minha credencial perto do fim, já posso afirmar com boa dose de certeza que O Gosto do Chá foi o melhor filme assistido por mim no Festival. Vou mais longe: melhor do ano, até agora.

Hoje em dia eu tenho um método interno bastante estúpido para saber se um filme é excepcional. Sempre que saio do cinema, me pergunto se compraria o DVD do filme recém-assistido. No caso de O Gosto do Chá, a resposta é um efusivo SIM. E mais de uma cópia, se bobear.

Quem tiver a oportunidade de assistir na mostra de São Paulo (ou em qualquer ocasião no decorrer da vida), não perca. Vale - e muito - o ingresso.

p.s.: A foto acima foi a que eu escolhi para ilustrar a sinopse do filme no catálogo do Festival. Como ninguém quis mudá-la, ela acabou sendo publicada. Foi uma ótima escolha, no fim das contas: trata-se de uma das melhores seqüências do filme (além de ser protagonizada pelo meu personagem favorito, o Hajime, desde já o equivalente japonês do Charlie Brown).

besuntado por Vitor Dornelles 23:25



outubro 01, 2005

 
MARASMO

Em setembro tivemos exatamente SETE posts. Devo jogar no bicho?

besuntado por Vitor Dornelles 02:14



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