outubro 24, 2005

 
DE VOLTA À FILA DO GARGAREJO





Nessa noite eu e Reca decidimos conseguir um lugar na primeira fila. Por garantia, chegamos ao MAM às 20h (o show estava marcado para começar às 23h). Havia umas 10 pessoas esperando a abertura da tenda. Resolvemos dar um volta antes, beber alguma coisa, aproveitar para ir ao banheiro, comprar CD. Voltamos e a fila continuava do mesmo tamanho. Nos juntamos aos gatos pingados e lá ficamos até a abertura dos portões, às 22h. Graças à nossa estratégia, foi bem fácil conseguir um lugar na grade. Ficamos quase no centro, um pouco à direita. Como não queríamos perder a visão privilegiada, decidimos que não arredaríamos pé de lá até a última música do Wilco. Ou seja: nada de ir ao banheiro por pelos menos 4 horas. Depois percebemos que, apesar disso, teria sido uma boa idéia comprar uma garrafa d'água.

Às 23h não havia o menor indício de que a banda de abertura entraria no palco. Quase uma hora depois, tenda lotada, a situação era a mesma. O público, revoltado, começava a vaiar a organização quando, à meia-noite, o Lado 2 Estéreo deu início aos trabalhos.

Lado 2 Estéreo - Após a primeira música, a dupla de guitarra e bateria, saída diretamente de Teresina, pediu desculpas pelo atraso e fez o trabalho da organização explicando que a demora ocorreu por causa dos shows no palco Club. Em seguida, continuaram com sua mistura bizarra de heavy metal e samba. Apesar da formação, eles não se parecem nada com os White Stripes. Na verdade, me lembraram o Death From Above 1979 (cuja formação consiste em baixo e bateria, e quem canta é o baterista). O público até aplaudiu as primeiras músicas - muito bem tocadas, por sinal - mas a impaciência da maioria dificultou as coisas para os piauienses. Quando o guitarrista anunciou a última música, muita gente comemorou. Uma pena. Foi um show competente e bastante interessante, pena que no lugar errado.

Arcade Fire - Mesmo tendo assistido à montagem do palco do Arcade Fire, eu não podia sequer imaginar o que estava reservado para a hora seguinte. Os roadies não paravam de entrar com instrumentos. Guitarras e mais guitarras. Acordeon. Teclado. Violoncelo. Capacetes. E a bateria, em que um pequeno projetor dava a impressão de haver dois agapornis presos dentro do bumbo. Quando eu menos esperava, os canadenses entraram no palco e o que se seguiu é impossível de descrever.

Começaram com "Wake Up", cujo coro pós-apocalíptico foi amplificado pelas vozes da platéia e pela barulheira generalizada que os integrantes da banda faziam, deixando a canção ainda melhor. Esta foi uma das principais caracaterísticas do show, aliás: todas as canções, que já são ótimas em disco, ficaram ainda melhores nas versões ao vivo. Mais encorpadas, mais épicas, mais teatrais. Em seguida, tocaram "Laika", para delíro da massa, e "No Cars Go", do pouco conhecido EP de estréia. Na quarta canção, "Haiti", já estava claro: eles são o "carrossel holandês" da música (a despeito de serem canadenses). Parecia que era pré-requisito ser multi-instrumentista para fazer parte da banda. Só o ruivinho de óculos tocou tambor, acordeon, teclado, um prato de bateria semi-destruído, guitarra, violoncelo e até a estrutura de metal do palco. A certa altura, o baterista foi tocar guitarra e Régine Chassagne, também conhecida como a "baixinha morena esposa do vocalista", que já havia tocado sabe-se lá quantos instrumentos, assumiu as baquetas. O setlist incluiu ainda "Headlights Looks Like Diamonds", uma versão soturna de "Aquarela do Brasil" (a mesma de Brazil, o filme), "Crown Of Love", "Tunnels" e "Power Out", emendada magnificamente em "Rebellion (Lies)", que encerrou o show e, a julgar pela reação do público, era mesmo a mais aguardada da noite.

Quem esperava um show indie e mala, com músicos imóveis, certamente supreendeu-se. Win Buttler e companhia tocaram com empolgação genuína, e terminaram esvaídos em suor - especialmente o irmão mais novo de Buttler, William, que corria ensandecido pelo palco, não importava qual intrumento estivesse tocando, e perto do fim do espetáculo (não há palavra melhor para definir a apresentação) se pendurou na estrutura de metal para bater as mãos na parede. Em suma, um showzaço - apesar da curta duração e de não terem tocado "Une Anée Sans Lumiere". Superou todas as minhas expectativas. Até a Reca, que mal conhecia a banda, ficou estupefata.

Wilco - Depois do show avassalador do Arcade Fire, o Wilco tinha um trabalho difícil pela frente. Para nossa sorte - e êxtase coletivo -, eles tiraram de letra. Mesmo focado nos dois últimos discos (Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost Is Born) e esquecendo quase por completo a obra-prima Sumerteeth (tocaram apenas "Shot In the Arm" e "Via Chicago"), o show foi antológico. O que se viu foram, novamente, versões ao vivo mais poderosas do que as de estúdio, um show repleto de guitarras e eventuais barulhinhos de teclado, com músicas como "War On War", "Jesus, etc.", "Hummingbird", "I Am Trying To Break Your Heart", "At least What You Said" e "Handshake Drugs" revigoradas.

Jeff Tweedy, um pouco mais gordo e envelhecido do que na turnê do YHF, foi simpaticíssimo e tinha a platéia nas mãos. Lá pelo meio da apresentação, fomos brindados com uma música nova, "Walken", que de tão boa só faz aumentar a expectativa pelo próximo disco dos americanos. Já no bis, mandaram "Heavy Metal Drummer" e - supresa! - duas músicas seguidas do magistral Being There (que só tinha aparecido com "Misunderstood"): "Monday" e "Outtasite (Outta Mind)" (por esta última NINGUÉM esperava). Fecharam com "I'm A Wheel".

Eu já estava com um sorriso de orelha à orelha quando, após insistentes pedidos do público, eles voltaram para o segundo (e aparentemente não programado) bis. Jeff Tweedy disse "You are very lucky!" antes de executarem os primeiros acordes de "I Shall Be Released", música do Bob Dylan eternizada pela The Band. Um final emocionante, digno do melhor show do festival. Aliás, "show" é pouco: foi mais uma experiência mística do que qualquer outra coisa.

Após oito horas e meia, das quais cinco foram passadas em pé e sem água, a satisfação era total. Estávamos quebrados, porém embevecidos. Se aquilo era um sonho, que continuássemos dormindo.

Abaixo, três downloads válidos por 7 dias ou até esgotarem nossos estoques.

The Arcade Fire - Wake Up

Wilco - Outtasite (Outtamind)


Wilco - Walken (Live)
(para vocês terem uma pálida idéia do que é a música nova)

****

Ah, sim, quase ia me esquecendo: No final do show, já saindo da tenda, quem eu encontro? Caetano Veloso, claro. Vulgarizou.

****

Daqui a pouco, o último dia.

besuntado por Vitor Dornelles 23:18

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