UMA PSEUDO-RESOLUÇÃONão sou muito de fazer resoluções de ano-novo. No entanto, se fosse obrigado a escolher uma, gostaria de em 2007 ter mais força de vontade para não deixar coisas inacabadas. Um bom exemplo disso pode ser encontrado neste blog mesmo. A quantidade de posts que eu planejei e não cheguei sequer a escrever foi maior do que o normal este ano.
Boa parte está nos meus rascunhos, somente com o título e uma linha de observação para eu me lembrar do que se trata. Por exemplo, em 2006 vocês NÃO leram no
Repolhópolis™ posts sobre: o disco novo e ainda não lançado do The Shins, meu vício em Bob Ross, sobrenomes perdidos, curiosidades sobre a ferramenta de tradução do Google aplicada ao blog, músicas que eu ouvia em 1999, dois episódios de conjuração fortuita, meu preconceito contra loiros de barba, considerações espirituosas a respeito dos livros do Oliver Sacks, uma mini-história em quadrinhos que seria desenhada e estrelada por mim e até mesmo — acreditem! — a segunda parte da mitológica saga "Vitor e os esportes".
Ah, claro, os mais sagazes devem ter reparado que eu também não preparei a
Coletânea Repolhópolis - Volume 3. Embora não haja a menor chance dela ir ao ar ainda este ano, não quer dizer que não possa ser lançada no início do próximo. Acho que até o fim de janeiro sai.
Quanto aos posts citados no segundo parágrafo, ainda pretendo escrever todos. Se eu conseguir, já seria um bom começo para a minha pseudo-resolução. Portanto, se você for uma pessoa otimista, pode encarar essa lista como uma prévia do que virá no blog em 2007.
Falando em 2007, deixem eu ir lá vestir minha camisa roxa. Até mais e não abusem da cachaça.
SUECOS À VISTAEu pensei em escrever alguma coisa sobre o show do Jens Lekman — o melhor do ano; bateu fácil tanto o TIM Festival quanto o New Order —, mas a
Reca fez um texto muito melhor do que eu poderia e, para a sorte dos meus leitores, até permitiu que eu o publicasse aqui. Fiquem, portanto, com o artigo exclusivo e bacanoso da
Reca sobre o show do Jens Lekman com outros suecos menos cotados e um norueguês mala:
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No longínquo ano de 2000, eu e Caetano Veloso fomos a um show do
Stereolab no Cine Íris. O show fazia parte do festival "Algumas pessoas tentam te fuder" (referência a uma música do
Teenage Fanclub), um festival de música mega-ultra-indie. Para mim, foi uma noite inesquecível: eventos acontecidos nessa noite mudaram minha vida para sempre. No entanto, nenhum deles tem relação com o Caetano.
No corrente ano de 2006, aconteceu a nona edição do referido festival, dessa vez parte de uma excursão chamada de "Invasão Sueca" que passou por Curitiba e São Paulo antes de chegar ao Teatro Odisséia, casa de shows na Lapa carioca. Não foi a minha primeira ida ao festival que agora eufemisticamente se intitula "Algumas pessoas ainda tentam três pontinhos", mas foi a primeira visita ao Teatro Odisséia. Honestamente, não achei nada de mais. É pequeno, quente e a cerveja é cara pacas. Não quero nem imaginar o que é o lugar durante um ensaio do Monobloco. Felizmente, banda sueca não atrai o mesmo público que bloco de carnaval.
A tarefa de abrir a noite para meia dúzia de gatos pingados ficou a cargo do Pelvs, que apesar do nome é carioca da gema. Originalmente, a função era do norueguês Erlend Oye, a metade mais ruiva e magrela da dupla
Kings of Convenience, mas, segundo a "organização", ele pediu para fechar o festival. Conhecendo a reputação do rapaz, que é um mala notório, imagino que ele tenha dado ataques de pelancas no camarim ao saber que entraria antes de uma banda brasileira, mas isso é apenas uma conjectura minha.
Voltando ao assunto, o show de abertura estava atrasado 15 minutos e a passagem de som teimava em não acabar. Eventualmente, eles começaram a tocar de qualquer jeito, pedindo desculpas pela qualidade do som. Se o som estava ruim? Não sei, não conheço Pelvs. Não conhecia antes e continuo sem conhecer após o show. A banda parece pegar diversas influências de pós-rock e transformar numa coisa que é ao mesmo tempo familiar e esquecível. Foi um show curto que não disse a que veio.
A "organização" voltou então ao palco para dizer que Sara Assbring, uma moça sueca ruiva que atende no meio musical por
El Perro Del Mar, tinha passado mal e não ia se apresentar. No lugar dela, tocaria Erlend Oye, aquele mesmo que já tinha esculhambado a ordem das bandas no começo. Tudo bem: ambos são escandinavos ruivos que tocam pop calminho, trocaram seis por meia dúzia.
Erlend entrou no palco discretamente. Tão discretamente que acho que ninguém percebeu, ou então simplesmente não deram a menor bola. O problema é que, como quem assistiu ao
show do Kings of Convenience no Tim Festival de 2005 já sabe, Erlend não gosta de barulho. Ele precisa de silêncio absoluto para se apresentar. Por um lado, é compreensível: ele é um cara sozinho com um violão que toca lo-fi. Agora, por outro lado, é no mínimo ingênuo esperar que aproximadamente 150 cariocas façam silêncio absoluto só porque ele pediu. Erlend começou a tocar assim mesmo, com ruído e tudo, e a platéia foi se aquietando aos poucos. Mas para ele não era o suficiente. Depois da primeira música, reclamou novamente da zoeira e teve a infeliz idéia de dizer que no show de São Paulo as pessoas ficaram quietinhas quando ele tocou. Regra número 1 de sobrevivência no Rio de Janeiro: nunca elogie paulistas. Depois dessa gafe, o que era barulho de fundo virou bagunça generalizada, o mau humor de Erlend aumentou e ele acabou fugindo do palco sem se despedir depois de apenas 5 ou 6 músicas (sendo 2 covers), aos gritos de "valeu, João Gilberto!". Ok, carioca é um povo debochado que não prima pela boa educação, mas a total falta de boa vontade do norueguês não foi nada elegante. Escandinavos não deviam ser mais civilizados que a gente?
Se houve alguma má impressão deixada por Erlend, ela foi rapidamente desfeita pelo sueco
Jens Lekman, principal atração da noite a julgar pela gritaria em volta do palco quando ele entrou. Branquelo, magrelo, cabeçudo e com um cacho de uvas na mão, é surpreendente quão bem Jens sabe segurar uma platéia. "Vocês podem falar à vontade enquanto eu toco. Eu entendo que vocês vieram aqui para ver shows, mas pra outras coisas também. Encontrar o amor da sua vida por exemplo", disse Lekman enquanto jogava uvas pro público. Ganhar a confiança do público enquanto sacaneia a neurose dos outros sem parecer maldoso é o que eu chamo de talento.
Simpático e falante, ele contou diversas histórias, como por exemplo a história real por trás da canção "Do You Remember the Riots?" e como George Bush arruinou sua vida amorosa. Ele abriu o set tocando "Your Beat Kicks Back Like That", cover de
Scout Niblett (ilustre "quem?"), que emendou em "Happy Birthday, Dear Friend Lisa!", acompanhado de um baixista, uma baterista e uma trompetista/acordeonista. Depois contou mais uma longa história que envolvia Tom Zé, Bill Wyman (baixista dos Rolling Stones) e uma pilha de dinheiro para introduzir "A Sweet Summer’s Night in Hammerhill", possivelmente a mais divertida de todas as suas músicas. Com o perdão do clichê, a platéia veio abaixo, fazendo corinho e gritando sem parar. Por um momento, achei que estivesse num show do Guns n’Roses. Depois vieram "Friday Night at the Drive-In Bingo", "Do You Remember the Riots?", "The Opposite of Hallelujah" e "Black Cab", estranhamente anunciada por uma voz incorpórea como o "hit de Jens Lekman". Como um sujeito que não tem discos lançados no Brasil, não toca no rádio e nem na novela tem um "hit"?
Após o "hit" veio o momento acústico. O baixista e a baterista deixaram o palco e Jens mandou uma linda versão de "You Are the Light (by Which I Travel Into This And That)" de guitarra e trompete. Segundo o setlist (que eu ganhei das mãos do próprio Jens), deveria vir "Mapleleaves" e fechar com "Julie". Mas o show foi estendido, provavelmente devido à empolgação exagerada do público. Adoraria poder listar exatamente o que mais ele tocou, mas a memória me falha. Para não dizer que não me lembro de nada, ele tocou "Pocketful of Money" e mais outras coisas. Se alguém que estava lá e tem uma memória melhor que a minha quiser fazer acréscimos ao setlist, os comentários estão aí para isso mesmo.
Depois de "Julie", Jens, meio encabulado, deixou o palco dizendo que tinha que deixar espaço pra banda seguinte, mas o barulho foi tanto que ele teve que voltar para um bis rápido: "Tram #7 To Heaven", que fechou o show. Antes de descer do palco definitivamente, ainda acrescentou que tinha mesmo que ir, mas que ia circular pelo salão se alguém quisesse ouvir mais alguma coisa que ele não tivesse tocado. Não fiquei lá para conferir, mas acredito que ele estava falando sério. Sujeito legal, esse tal de Jens.
Por fim, o
Hell on Wheels fez um show bacana para um teatro quase vazio – houve uma debandada geral após o show do Jens Lekman. Não tenho muito a dizer a respeito, mas dois comentários têm que ser feitos: 1. O vocalista da banda é o sueco menos sueco do mundo. Tinha uma pinta mais Madureira do que Gottenburg, ainda mais depois que ele abriu a camisa até o umbigo durante o show. 2. Para um povo que passa 4 meses por ano soterrados em neve, os suecos até que são um povo animadinho.
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Assino embaixo de tudo o que a
Reca disse. E se essa moda de trazer suecos continuar, sugiro que a próxima leva inclua
Peter Bjorn And John e
I'm From Barcelona, embora trazer os 29 membros desta última me pareça um tanto inviável.
NEM O MOBRAL SALVAEstava na fila do caixa eletrônico quando percebi que uma das máquinas tinha um aviso impresso enorme, que tapava a parte superior da tela: "Indisponível para saque". Na mesma hora, reparei que uma moça vestindo uma camisa da Casa & Vídeo usava este mesmo caixa. Nada demais, pensei. Podia ser um depósito, ou um extrato.
Do ângulo em que eu estava, contudo, pude ver que ela escolheu a opção "Saque". Eu e o cara que estava na minha frente, que também vira a cena, nos olhamos incrédulos: como alguém podia não ver um aviso daquele tamanho? Considerei por alguns instantes que a moça talvez fosse cega, mas assim que o aviso de "Operação indisponível no momento" apareceu na tela e ela soltou um "Acho que não está funcionando", concluí que era só burra mesmo. Extremamente burra.
Não consegui segurar o riso. Olhei de novo pro cara na minha frente, que assim como eu não conseguia acreditar na estupidez da garota. Mesmo sem nos dizermos nada, ambos concordávamos que era impossível não ver o aviso. Não havia como usar a máquina sem percebê-lo. Ainda assim, a menina permaneceu alguns segundos sem saber o que fazer, até que a moça que estava no começo da fila disse um "Não está funcionando pra saque", com um ar de condescendência que claramente ocultava um "sua idiota" no final da frase.
A menina ainda hesitou algum tempo até se convencer de que seria impossível tirar dinheiro naquele caixa. Quando desistiu, voltou para a fila e esperou outra máquina ficar livre. O cara na minha frente se limitou a sacudir a cabeça e dizer baixinho: "Por isso é que elegem esses políticos...".
Faz sentido.
(NOT) REJECTEDAssim como o consumo de drogas no mundo,
Rejected e Don Hertzfeldt são constantes históricas no blog. Muito tempo atrás, nos primórdios do
Repolhópolis™, ofereci a fantástica animação como download da semana. Desta vez decidi colocá-la num post — obrigado, Google Video — porque o curta tem tudo a ver com o que aconteceu comigo hoje. Só que ao contrário.
Quem não viu até hoje, assista e converta-se. Quem já viu certamente verá de novo.