dezembro 17, 2006

 
SUECOS À VISTA





Eu pensei em escrever alguma coisa sobre o show do Jens Lekman — o melhor do ano; bateu fácil tanto o TIM Festival quanto o New Order —, mas a Reca fez um texto muito melhor do que eu poderia e, para a sorte dos meus leitores, até permitiu que eu o publicasse aqui. Fiquem, portanto, com o artigo exclusivo e bacanoso da Reca sobre o show do Jens Lekman com outros suecos menos cotados e um norueguês mala:

****

No longínquo ano de 2000, eu e Caetano Veloso fomos a um show do Stereolab no Cine Íris. O show fazia parte do festival "Algumas pessoas tentam te fuder" (referência a uma música do Teenage Fanclub), um festival de música mega-ultra-indie. Para mim, foi uma noite inesquecível: eventos acontecidos nessa noite mudaram minha vida para sempre. No entanto, nenhum deles tem relação com o Caetano.

No corrente ano de 2006, aconteceu a nona edição do referido festival, dessa vez parte de uma excursão chamada de "Invasão Sueca" que passou por Curitiba e São Paulo antes de chegar ao Teatro Odisséia, casa de shows na Lapa carioca. Não foi a minha primeira ida ao festival que agora eufemisticamente se intitula "Algumas pessoas ainda tentam três pontinhos", mas foi a primeira visita ao Teatro Odisséia. Honestamente, não achei nada de mais. É pequeno, quente e a cerveja é cara pacas. Não quero nem imaginar o que é o lugar durante um ensaio do Monobloco. Felizmente, banda sueca não atrai o mesmo público que bloco de carnaval.

A tarefa de abrir a noite para meia dúzia de gatos pingados ficou a cargo do Pelvs, que apesar do nome é carioca da gema. Originalmente, a função era do norueguês Erlend Oye, a metade mais ruiva e magrela da dupla Kings of Convenience, mas, segundo a "organização", ele pediu para fechar o festival. Conhecendo a reputação do rapaz, que é um mala notório, imagino que ele tenha dado ataques de pelancas no camarim ao saber que entraria antes de uma banda brasileira, mas isso é apenas uma conjectura minha.

Voltando ao assunto, o show de abertura estava atrasado 15 minutos e a passagem de som teimava em não acabar. Eventualmente, eles começaram a tocar de qualquer jeito, pedindo desculpas pela qualidade do som. Se o som estava ruim? Não sei, não conheço Pelvs. Não conhecia antes e continuo sem conhecer após o show. A banda parece pegar diversas influências de pós-rock e transformar numa coisa que é ao mesmo tempo familiar e esquecível. Foi um show curto que não disse a que veio.

A "organização" voltou então ao palco para dizer que Sara Assbring, uma moça sueca ruiva que atende no meio musical por El Perro Del Mar, tinha passado mal e não ia se apresentar. No lugar dela, tocaria Erlend Oye, aquele mesmo que já tinha esculhambado a ordem das bandas no começo. Tudo bem: ambos são escandinavos ruivos que tocam pop calminho, trocaram seis por meia dúzia.

Erlend entrou no palco discretamente. Tão discretamente que acho que ninguém percebeu, ou então simplesmente não deram a menor bola. O problema é que, como quem assistiu ao show do Kings of Convenience no Tim Festival de 2005 já sabe, Erlend não gosta de barulho. Ele precisa de silêncio absoluto para se apresentar. Por um lado, é compreensível: ele é um cara sozinho com um violão que toca lo-fi. Agora, por outro lado, é no mínimo ingênuo esperar que aproximadamente 150 cariocas façam silêncio absoluto só porque ele pediu. Erlend começou a tocar assim mesmo, com ruído e tudo, e a platéia foi se aquietando aos poucos. Mas para ele não era o suficiente. Depois da primeira música, reclamou novamente da zoeira e teve a infeliz idéia de dizer que no show de São Paulo as pessoas ficaram quietinhas quando ele tocou. Regra número 1 de sobrevivência no Rio de Janeiro: nunca elogie paulistas. Depois dessa gafe, o que era barulho de fundo virou bagunça generalizada, o mau humor de Erlend aumentou e ele acabou fugindo do palco sem se despedir depois de apenas 5 ou 6 músicas (sendo 2 covers), aos gritos de "valeu, João Gilberto!". Ok, carioca é um povo debochado que não prima pela boa educação, mas a total falta de boa vontade do norueguês não foi nada elegante. Escandinavos não deviam ser mais civilizados que a gente?

Se houve alguma má impressão deixada por Erlend, ela foi rapidamente desfeita pelo sueco Jens Lekman, principal atração da noite a julgar pela gritaria em volta do palco quando ele entrou. Branquelo, magrelo, cabeçudo e com um cacho de uvas na mão, é surpreendente quão bem Jens sabe segurar uma platéia. "Vocês podem falar à vontade enquanto eu toco. Eu entendo que vocês vieram aqui para ver shows, mas pra outras coisas também. Encontrar o amor da sua vida por exemplo", disse Lekman enquanto jogava uvas pro público. Ganhar a confiança do público enquanto sacaneia a neurose dos outros sem parecer maldoso é o que eu chamo de talento.

Simpático e falante, ele contou diversas histórias, como por exemplo a história real por trás da canção "Do You Remember the Riots?" e como George Bush arruinou sua vida amorosa. Ele abriu o set tocando "Your Beat Kicks Back Like That", cover de Scout Niblett (ilustre "quem?"), que emendou em "Happy Birthday, Dear Friend Lisa!", acompanhado de um baixista, uma baterista e uma trompetista/acordeonista. Depois contou mais uma longa história que envolvia Tom Zé, Bill Wyman (baixista dos Rolling Stones) e uma pilha de dinheiro para introduzir "A Sweet Summer’s Night in Hammerhill", possivelmente a mais divertida de todas as suas músicas. Com o perdão do clichê, a platéia veio abaixo, fazendo corinho e gritando sem parar. Por um momento, achei que estivesse num show do Guns n’Roses. Depois vieram "Friday Night at the Drive-In Bingo", "Do You Remember the Riots?", "The Opposite of Hallelujah" e "Black Cab", estranhamente anunciada por uma voz incorpórea como o "hit de Jens Lekman". Como um sujeito que não tem discos lançados no Brasil, não toca no rádio e nem na novela tem um "hit"?

Após o "hit" veio o momento acústico. O baixista e a baterista deixaram o palco e Jens mandou uma linda versão de "You Are the Light (by Which I Travel Into This And That)" de guitarra e trompete. Segundo o setlist (que eu ganhei das mãos do próprio Jens), deveria vir "Mapleleaves" e fechar com "Julie". Mas o show foi estendido, provavelmente devido à empolgação exagerada do público. Adoraria poder listar exatamente o que mais ele tocou, mas a memória me falha. Para não dizer que não me lembro de nada, ele tocou "Pocketful of Money" e mais outras coisas. Se alguém que estava lá e tem uma memória melhor que a minha quiser fazer acréscimos ao setlist, os comentários estão aí para isso mesmo.

Depois de "Julie", Jens, meio encabulado, deixou o palco dizendo que tinha que deixar espaço pra banda seguinte, mas o barulho foi tanto que ele teve que voltar para um bis rápido: "Tram #7 To Heaven", que fechou o show. Antes de descer do palco definitivamente, ainda acrescentou que tinha mesmo que ir, mas que ia circular pelo salão se alguém quisesse ouvir mais alguma coisa que ele não tivesse tocado. Não fiquei lá para conferir, mas acredito que ele estava falando sério. Sujeito legal, esse tal de Jens.

Por fim, o Hell on Wheels fez um show bacana para um teatro quase vazio – houve uma debandada geral após o show do Jens Lekman. Não tenho muito a dizer a respeito, mas dois comentários têm que ser feitos: 1. O vocalista da banda é o sueco menos sueco do mundo. Tinha uma pinta mais Madureira do que Gottenburg, ainda mais depois que ele abriu a camisa até o umbigo durante o show. 2. Para um povo que passa 4 meses por ano soterrados em neve, os suecos até que são um povo animadinho.

****

Assino embaixo de tudo o que a Reca disse. E se essa moda de trazer suecos continuar, sugiro que a próxima leva inclua Peter Bjorn And John e I'm From Barcelona, embora trazer os 29 membros desta última me pareça um tanto inviável.

besuntado por Vitor Dornelles 23:39

Voltar para Repolhópolis

Google
 
Web repolhopolis.blogspot.com

Oba Fofia
A Vida Tem Dessas Coisas
Alexandre Soares Silva
Anamorfoses
Bard do Moe
Barriga Verde
Big Muff
Bla-Bla-Blog
Bumerangue!
Coisinha Supimpa
Copy-Paste
De Volta A Zenn-La
Dois Vezes Um
Esferográfica
Escrevescreve
Eufonia
Failbetter
Filthy McNasty
Gi em SP
H Gasolim Ultramarino
Letras Mortas
Londrisleblogui
Longo Caminho
Los Olvidados
Marcão Fodão
Mau Humor
Nobre Farsa
Noites Na Cidade
Non Sequitur
Os Conspiradores
Palmeirense Falador
Pensar Enlouquece
Perséfone
Pulso Único
puragoiaba
Radar Pop
Rapadura Açucarada
Ricardo Westin
Tédio Profundo
Terceira Base
These Are The Contents...
TV e Cerveja
Veríssimos
24/7
Zeus Era Um Galanteador


Bitter Films
KCRW
Miniclip
xkcd
Orisinal
Pitchfork
the ispot






This page is powered by Blogger. Isn't yours?


View My Stats

Creative Commons License
Blog licensed under a
Creative Commons
License