Lendo Homenagem à Catalunha, tive uma epifania: alguém precisa filmar as aventuras de George Orwell na Guerra Civil Espanhola. A história é tão divertida — sim, divertida! — que não me surpreenderia se resultasse no melhor filme de guerra de todos os tempos. Leiam alguns dos meus momentos favoritos, os quais cito de cabeça por não ter o livro aqui:
# Na sua primeira frente de batalha, Orwell foi parar em trincheiras localizadas num penhasco. Num outro penhasco, do outro lado do desfiladeiro e a mais de 700 metros de distância, estavam os fascistas. Os fuzis de ambos os lados eram tão ruins que simplesmente não existia o menor risco de alguém ser atingido, por mais que uma ou outra bala passasse zunindo, sem grande perigo, por cima dos capacetes dos soldados republicanos.
# Não por acaso, a maior parte das baixas entre a turba de garotos mal-vestidos que compunha o exército republicano era causada por acidentes com os próprios fuzis, os quais volta e meia estouravam na cara de um miliciano desafortunado. O próprio fuzil usado por Orwell era uma relíquia com mais de 40 anos de idade, que vivia emperrando.
# Mais perigoso do que balas perdidas e tiros saindo pela culatra, o frio era uma grande preocupação nas trincheiras. Tanto que Orwell cita a busca de lenha como o momento mais importante do dia — que, em geral, se resumia a montar guarda e cavar buracos. A escassez de lenha, como relata Orwell, acabou transformando os milicianos em semi-botânicos, uma vez que eram capazes de classificar as plantas pela quantidade de fogo que produziam.
# Os piolhos também eram outro problema grave. Segundo Orwell, se existe uma coisa que une os soldados através dos tempos são os piolhos nos testículos. Os bichinhos, aliás, foram os maiores incentivadores do primeiro banho que Orwell tomou, após seis semanas imundas no front.
# Orwell introduz ainda o conceito de "granada imparcial", apelido carinhoso dado às bombas que carregavam. "Imparcial" porque atingia igualmente tanto o alvo quanto quem a lançasse.
# O exército republicano não era uma hierarquia, como costumam ser os exércitos, mas uma democracia, o que gerava uma série de problemas. Em vez de dar ordens aos soldados, os oficiais de patente mais alta se viam obrigados a perder um tempo precisoso convencendo-os a fazer suas respectivas tarefas. Não admira que os fascistas tenham ganho.
# Como nenhum dos lados conseguia acertar o outro, a arma mais eficaz usada pelo exército republicano era o megafone. Com ele, as tropas tentavam aliciar soldados fascistas, ao mesmo tempo em que os xingavam de "maricones". O outro lado não deixava por menos e devolvia palavras de ordem como "Viva Franco!" e outras coisas criativas.
# Em um momento de absoluta falta de ação e com poucas baixas, um oficial do exército republicano soltou a frase: "Isto não é uma guerra, mas uma ópera bufa com mortes eventuais".
# Depois de ser transferido, Orwell finalmente viveu um momento perigoso, quando se viu cercado por fascistas atirando de todos os lados, enquanto, no meio da chuva, tentava erguer uma barricada com sacos de areia que pesavam mais de 50 quilos. Neste momento, gritou para um amigo: "Então isto é que é a guerra? Mas que merda, hein?".
Decidi ir para o trabalho a pé, mesmo sabendo que estava a 10 quilômetros de distância. Na Praça da Bandeira me deparei com uma multidão de corredores vestindo camiseta e short brancos. Eles corriam em direção ao elevado da Paulo de Frontin, e foi aí que eu me dei conta: era a maratona dos 100 mil do Rio Comprido.
Vendo toda aquela gente correndo, resolvi correr também. Economizaria tempo na minha ida a pé para o trabalho. Depois de ultrapassar alguns dos competidores da maratona — que por algum motivo acontecia com o trânsito aberto, causando um engarrafamento colossal — comecei a me empolgar e a correr cada vez mais rápido. De repente, percebi que estava sem sapatos. Olhei para os meus pés, vi as meias brancas tocando o asfalto e pensei: "Não posso ir assim pro trabalho". E comecei a correr na direção contrária.
Eu acho que já disse isso em outra ocasião, mas meus sonhos estão cada vez mais estranhos.
Foi a Reca quem me apresentou a LittleBigPlanet, o jogo que pode significar o início da redenção do até agora desacreditado Playstation 3. Como não gostar dos ultra-carismáticos bonecos de meia? E o que dizer da maneira como os objetos se movem? Só isso já seria o suficiente para despertar admiração, mas ainda por cima eles tinham que dar aos jogadores poder para editar virtualmente tudo, dos bonecos às fases. Some isso à interação online e você tem o jogo mais promissor a surgir em muito tempo. É o primeiro que parece pertencer realmente a uma nova geração de consoles, sem aquele ar de jogo de PS2 mais bonitinho (aliás, fico imaginando como seria Katamari com esses gráficos e essa dinâmica). Assistam ao trailer, que ainda por cima tem trilha sonora do The Go! Team:
E vejam aqui a cativante apresentação dos desenvolvedores na Game Developers Conference (GDC) de 2007. Vale a pena.