RÁDIO REPOLHO #28 (EDIÇÃO INSAMBÁVEL)Em homenagem ao reinado de Momo,
uma nova edição do Cabbage Radio. Desta vez tomei cuidado para que todas as músicas fossem completamente insambáveis. Dou um prêmio pra quem conseguir sambar ao som de qualquer uma delas (mas exijo prova em vídeo). Garanto que você não vai sentir nenhuma vontade de sacar um pandeirinho, nem de dar uma reboladinha. Pelo contrário, as reações mais prováveis são vontade de empunhar uma guitarra imaginária, ficar deprimido na banheira, ver a chuva caindo lá fora, ou ainda quebrar todos os seus móveis — não necessariamente ao mesmo tempo e nessa ordem.
Divirtam-se, pois. E não se esqueçam da serpentina.
UMA SOLUÇÃO PARA O CARNAVAL (OU QUASE)Vamos começar pelo óbvio: eu odeio carnaval. Houve uma época em que o Rio de Janeiro era um bom lugar para pessoas como eu. O único evento carnavalesco era o desfile das escolas de samba, que sempre foi uma coisa eminentemente turística. Havia também os bailes, mas nesse tempo já estavam em decadência e não chegavam a ter muito apelo junto aos cariocas. O resultado era que a cidade ficava vazia. Quando alguém me perguntava onde eu ia passar o carnaval e minha resposta era "no Rio", tinha certeza de receber de volta uma expressão de quem pensava "coitado!" ou "que
loser!". Não que isso me incomodasse. Sempre gostei de ser
loser. E achava ótimo ter a cidade pra mim. As ruas vazias, ninguém nos cinemas, só um bando de turistas reunidos ali ao lado da Praça Onze para ver um pessoal com penachos na cabeça, andando por uma ruazinha que chamam de avenida, ao som de músicas invariavelmente parecidas.
Até que tiveram a idéia de ressuscitar os blocos.
Lembro de assistir pela TV ao carnaval de Salvador, aquela multidão se espremendo atrás de uns caminhões esquisitos que tocavam música ruim, e pensar em como era bom nada daquilo existir por aqui. Claro, o Rio de Janeiro fora conhecido pelo carnaval de rua em tempos idos. O avô da minha esposa, por exemplo, que acabou de fazer 100 anos, costumava se divertir nestes folguedos quando era jovem — pra vocês terem uma idéia de quão idos eram os tempos. Julgava, portanto, que os blocos estavam relegados às fotos em preto e branco e aos relatos dos saudosistas.
Alguns anos atrás, porém, começou um movimento esquisito. Você ouvia falar aqui e ali de alguém que ia em algum bloco, e se perguntava se aquela pessoa não estava delirando. "Bloco? Mas isso ainda existe?", e dava uma risadinha do coitado, todo animado indo pro bloco que provavelmente só existia na imaginação. Só que, à medida que o tempo passava, mais gente começava a ir aos tais blocos.
Aconteceu numa progressão geométrica. Quando dei por mim, o Rio já estava tomado por blocos — com uma bela ajudinha da antiga prefeitura, que não fez nenhuma questão de controlar sua proliferação. E eis que aconteceu o que eu julgava impossível: voltou a ser
cool passar o carnaval no Rio. Graças aos blocos, agora só uma minoria deixa a cidade durante o feriado. Não é à toa que é impossível sair de casa durante o carnaval e não ficar preso num engarrafamento causado por algum bloco. Hoje mesmo fiquei preso num, lá no Jardim Botânico.
O problema é que os blocos estão grandes demais. Já reúnem muito mais gente que os desfiles das escolas de samba. Como vocês podem imaginar, virou uma bagunça só. Além dos engarrafamentos, os blocos estão se tornando um transtorno para os próprios freqüentadores, que sofrem com falta de banheiros, superlotação e falta de segurança. Alguma coisa precisa ser feita.
Foi aí que eu tive uma idéia. Porque, embora eu odeie carnaval, não quero estragar a folia de ninguém (mesmo sabendo que os foliões não dão a mínima pro meu direito de ir e vir). Sou, antes de tudo, um pragmático, que sabe que a extinção dos blocos é bastante improvável. Por isso, voltando a minha idéia, é necessária, o quanto antes, a criação de um
blocódromo.
Aliás, vou mais longe: precisamos urgentemente criar blocódromos, no plural, um para cada área. Seria ingênuo pensar que o resolveríamos o problema criando apenas um blocódromo localizado, sei lá, no cais do porto. O grande apelo dos blocos é ser perto de onde as pessoas moram. Muita gente vai aos blocos simplesmente porque eles passam perto, ainda que hoje em dia o negócio tenha tomado proporções tão gigantescas que muita gente faz roteiro para circular por vários blocos (minhar irmã se programou para ir em pelo menos 10 este ano). Por isso, a idéia só tem chance de dar certo se forem vários blocódromos. Um para Leblon e Ipanema, outro para Copacabana, outro para Botafogo e Humaitá, mais um para Centro e Santa Teresa. Enfim, vocês captaram a idéia.
Mas no que consistiriam os blocódromos, afinal? Bem, é essa parte que eu acho legal, porque ainda por cima geraria empregos. Eles seriam como cidades cenográficas, réplicas de quadras de alguns bairros, com prédios, bancas de jornal, latas de lixo e até estabelecimentos comerciais. Os empregos seriam gerados não só botando lojas nos bairros cenográficos, mas principalmente na figuração. Gente interpretando jornaleiro, gari, morador de prédio e até mesmo motorista impaciente. Tudo para recriar ao máximo a experiência do bloco real, sem que o trânsito seja tão prejudicado como é hoje em dia. Com uma estrutura pensada exclusivamente para atender aos blocos, acabariam os problemas com falta de banheiro e, principalmente, segurança.
O único problema é onde construir tais blocódromos. Mas esse problema eu deixo para as autoridades competentes. O fato é que temos que agir logo, porque hoje eu fiquei sabendo que os
ranchos também estão voltando. Veja bem, RANCHO! Se não fizermos alguma coisa agora, pode ser tarde demais.
PREENCHENDO ESPAÇOIh, só agora eu vi que
me passaram uma corrente. Na verdade é bem parecida com
esta aqui, que eu publiquei em 2004. Só muda o número da página. E também não tinha que repassar. Mas vamos lá de novo:
1. Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. Abra-o na página 161;
3. Procurar a 5ª frase completa;
4. Postar essa frase em seu blog;
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6. Repassar para outros 5 blogs.
Eu estava bêbado, portanto lúcido, a balbúrdia ao redor tanto podia ser a China como um planeta desconhecido, meu umbigo se achava a uma distância infinita das minhas mãos, e eu nem sabia ao certo se minhas mãos eram pretas ou eram brancas, nem mesmo se eram as minhas mãos. (
A Lua Vem da Ásia, em
Obra Reunida, de Campos de Carvalho)
Não repasso correntes, mas se alguém quiser fazer também, sinta-se à vontade.