ANOTAÇÕES SOBRE O ANIMA MUNDIEste ano assisti somente a 17 das 21 sessões de curtas. Em compensação, vi também um longa (
Alosha Popovich I Tugarin Zmey, do Konstantin Bronzit, bacaninha). As sessões de vídeo se mesclaram definitivamente com as de película, mas desta vez tiveram a boa idéia de colocar os comerciais e vinhetas no início das sessões, além de indicá-los com um asterisco nas cédulas de votação. Por causa dessa simples providência, nem dei 1 (ruim) para todos os comerciais e vinhetas. Só para alguns.
Melhor curta do
Anima Mundi?
The Fan And The Flower, novíssimo filme do
Bill Plympton (tão novo, aliás, que é impossível achar uma imagem do curta na internet), que conta a história de amor entre um ventilador de teto e uma flor. Sério. E é de chorar de tão bonito. Bill Plympton conseguiu se reinventar. Seus últimos filmes estavam começando a se tornar repetitivos, sempre com as mesmas piadas escatológicas.
The Fan And The Flower explora o lado sensível de Plympton e o resultado é não menos que fantástico. Ponto pra ele.
O filme do Bill Plympton não foi a única coisa boa do festival, contudo. Assisti a outros que quase lhe tiraram a medalha de ouro. Alguns deles, sem ordem de preferência:
Imago (
de Cedric Babouche), curta francês sobre um garotinho que perdeu o pai num acidente de avião. Tem um quê de
Father and Daughter;
Chahut (
de Gilles Cuvelier), animação belga sobre um carnavalesco numa cidade abandonada. Interpreto como um filme sobre o fim do mundo. Além disso, a regra é clara: se chove peixe, é bom;
Syntymäpäivä (
de Kari Juusonen), sobre uma vaca que ia ser abatida e começa a "perseguir" seu quase-abatedor. Belo final. Finlandês;
Over Time (
de Oury Atlan, Thibaut Berland e Damien Ferrié), curta francês que homenageia Jim Henson, criador dos Muppets. Estrelado por um batalhão de Cacos com olhos vazados. Pode assustar os mais sensíveis;
Lionel (
de Gabriel Gelade, Medhi Leffad, Anthony Menard e Mathieu Poirey), animação em computador francesa sobre um menino de 6 anos e sua explicação para os seguintes tópicos: almoço e piranhas;
Viaje A Marte (
de Juan pablo Zaramella), animação de massinha produzida na Argentina, conta a história de um menino cujo sonho de ir a Marte é realizado pelo avô, que o leva até lá de... caminhonete. Ganhou o prêmio do público aqui no Rio;
La Tête Dans Les Etoiles (
de Sylvian Vincendeau), outra animação da frança, sobre a estranha relação do homem com a natureza;
Zasukanec (
de Spela Caldez), produção alemãs/eslovena que conta a história de um alfaiate com poderes telecinéticos;
Born To Be Alive (
de Dimitri Cohen Tanugi, Sylvère Bastien, Michael Pressouyre e Marien Verhoeven), sobre um gato extremamente cabeçudo que tenta se suicidar das mais diversas maneiras. Francês também;
Lunolin, Petite Naturaliste (
de Cecíclia Marreiros Marum), outro curta francês, sobre a tumultuada relação do pequeno Lunolin com dois ouriços;
Badgered (
de Sharon Colman), animação britânica sobre um tatu impedido de dormir por motivos alheios à sua vontade;
Herr Würfel (
de Rafael Sommerhalder), animação suíça sobre um dos meus temas preferidos: como pequenas escolhas podem mudar radicalmente a sua vida (o filme que eu mais gostei
ano passado falava justamente disso);
La Revolution des Crabes (
de Arthur de Pins), animação francesa, para variar. O tema é muito parecido com o de
Dahucapra Rupidahu, do ano passado, mas longe de ser um plágio. Fala de um dos animais mais desgraçados da natureza, o Pachygrapsus Mortamus, ou "caranguejo deprimido";
Learn Self Defense (
de Chris Harding), animação estadunidense sobre George, que tem que aprender a se defender. Sacaneia a paranóia norte-americana atual. Hilário;
Kutoja (
de Laura Neuvonen), curta finlandês sobre obsessão. E tricô;
Agricultural Report (
de Melina Sydney Padua), melhor filme sobre vacas do festival. Irlandês;
Command Z (
de Candy Kugel e Vincent Cafarelli), sobre como a vida seria mais fácil se pudéssemos executar o Ctrl+Z no cotidiano;
Chohon (
de Enju Kim, Jungsun Choi, Junsang Yoon, Kinam Kim, Youngju Park e Youno Park), animação sul-coreana, sobre amor e resistência;
Fallen Art (
de Tomek Baginski), animação finlandesa em computador, certamente a mais macabra do ano. Talvez eu seja estranho por gostar dela.
Outros filmes divertidos que merecem ser citados:
Der Kussdieb (
de Elen Madrid);
Frog (
de Cristopher Conforti);
Burp, (
de Marco Nguyen);
El Ultimo Golpe Del Caballero (
de Juan Manuel Acuña);
Hernando (
de Thomas Bernos, Jérome Haupert e Nicolas Lessafre);
À Travers Mes Grosse Lunettes, (
de Pjotr Sapegin);
Gopher Broke (
de Jeff Bowler/Blur Studio);
Poteline (
de Michel Lefevre)
Bek (
de Lucette Braune);
The Old Crocodile (
de Koji Yamamura); e
A Dama da Lapa (
de Joana Toste).
Já na outra ponta do espectro... Praticamente todos os filmes brasileiros a que eu assisti (
Uhug na Serra da Capivara,
Roque - A Jogada Mortal,
Qualquer Nota,
Será que ela vem?,
A Guerra dos Bichos,
*.DOC etc.), o que só confirma
minhas teorias. Salvaram-se apenas Otto Guerra e Fabio Zimbres, com seu
Nave Mãe - bem feitinho, mas nada de excepcional. O título de pior filme do Anima Mundi, no entanto, vai com louvor para
¿Con Que La Lavaré? (
de Maria Trénor), da Espanha, um desfile de cafonice e mau-gosto com 11 minutos de duração, que pretende ser "um tributo a todos os artistas homossexuais cults do século 20". Pobres homossexuais.
Acho que é isso. Ano que vem tem mais. De preferência com a exibição do
novo do Don Hertzfeldt e, se tudo der certo, com um filme MEU entre os piores do ano.
p.s.: Esqueci de mencionar a sessão especial Chris Landreth. Destaque para
Ryan (ganhador do Oscar deste ano, excelente),
Bingo (animação alucinada sobre como uma mentira repetida várias vezes pode se tornar uma verdade) e
The End (melhor zoação já feita sobre animações abstrato-cabeçóides).