julho 20, 2004

 
BEBA NA LARANJADA AMERICANA
Ou mais um punhado de bobagens que ninguém vai ler e sugestões que ninguém vai seguir.



Na quinta-feira passada já havia encerrado minha participação no Anima Mundi, festival que, aqui no Rio, terminou anteontem. No entanto, só agora resolvi compartilhar minhas impressões sobre os filmes exibidos. Não costumo fazer isso, por não me considerar um entendido em animação. Freqüento o Anima Mundi ha apenas quatro edições, por influência da minha namorada (esta sim uma especialista, veterana de nove edições do festival) e, portanto, não tenho grande conhecimento técnico nem a bagagem apropriada. Considerem minhas sugestões apenas como as de um sujeito que admira animações bem feitas e histórias bem contadas. Se eu falar merda, paciência - o que mais existe por aí é expert falando merda e todos parecem conviver muito bem com isso.

Assisti a 23 das 24 sessões de curtas (infelizmente, não deu para ver nenhum longa). Este ano, os organizadores tomaram uma decisão bastante impopular: acabaram com as exibições separadas para curtas em vídeo e para portifólio (basicamente, comerciais e vinhetas) e distribuíram tudo pelas sessões de película. O resultado foi um número bem maior de sessões em relação aos anos anteriores e uma irregularidade gritante nas mesmas. Para cada Harvie Krumpet (o ganhador do Oscar, para quem não sabe), uma tonelada de vinhetas sem sentido, comerciais cretinos e videoclipes enfadonhos. Em suma: lambança generalizada. Muita gente protestou dando nota 1 (ruim) para cada comercial ou vinheta exibidos, não importando a qualidade da animação. Eu mesmo optei por este método: munido do catálogo, verificava antes do início da sessão quais eram os comerciais e, assim que recebia minha cédula, marcava um X na pior nota.

Descontada a aporrinhação dessa mistureba, sobraram os filmes abstrato-irritantes de sempre, os estonianos (uma categoria à parte que, por sorte, compareceu com poucos filmes desta vez), os filmes ruins, os regulares, os bons e os muito bons. E é sobre estes últimos que eu quero falar.

Apesar da irregularidade das sessões quando comparadas a 2001 e 2002 (vi pouquíssimos curtas em 2003), tive a impressão de assistir a mais filmes bons este ano. Dá até para fazer um top 14 com os melhores (sem ordem de preferência):

1) Harvie Krumpet (Adam Elliot, massinha, CURTAS 5) - Animação australiana ganhadora do Oscar e também da edição carioca do festival. Melancólico e engraçado, muito bom mesmo.
2) Birthday Boy (Sjong Park, computador 3D, CURTAS 3) - Outra animação australiana, sobre um menino na guerra da Coréia.
3) The Final Solution (Phil Mulloy, recortes e computador 2D, CURTAS 4) - Pelo que eu entendi, é a parte final de um trilogia sobre os Zogs, seres bizarros que têm os órgãos sexuais no lugar da cabeça e vice-versa. Vi um dos filmes anteriores numa outra edição do festival, engraçadíssimo. Esse aqui não foge à regra.
4) Creature Comforts 'Cats Or Dogs' (Richard Goleszwoski, massinha, CURTAS 4) - Episódio da série para TV criada recentemente pela Aardman. Não tinha como não ser bom.
5) Brand Spanking (John-Paul Harney, computador 3D, CURTAS 3) - Estréia sensacional deste animador inglês. Mostra o que aconteceria se uma escola fosse financiada por diversas empresas interessadas apenas em vender seus produtos.
6) Dahucapra Rupidahu (Fréderique Gyuran, Vincent Gautier e Thibault Bérard, computador 3D e documentação ao vivo, CURTAS 3) - Hilariante pseudo-documentário francês sobre os Dahu, os bichos mais estúpidos da natureza.
7) Herr Blumsfich Explodiert (Mathias Schreck e Marc Hotz, computador 3D, CURTAS 3) - Animação alemã, também em tom de documentário, sobre um bizarro acontecimento envolvendo o Sr. Blumsfich.
8) Oedipus (Jason Wishnow, animação de legumes e verduras, CURTAS 5) - Segundo o catálogo, "A história de Édipo representada por legumes e verduras, na tradição de Ben Hur". E é isso mesmo.
9) It's 'The Cat' (Mark Kausler, acetato, CURTAS 8) - Produção americana. Animação dos anos 30 feita nos dias de hoje.
10) Killing Time At Home (Neil Coslett, computador 2D, CURTAS 7) - Animação britânica. Provavelmente o curta mais triste deste ano.
11) Guard Dog (Bill Plympton, lápis sobre papel, CURTAS 7) - Curta do Bill Plympton sempre vale a pena.
12) Little Things (Daniel Greaves, lápis sobre papel e computador 3D, CURTAS 18) - Mais uma animação britânica. Não dá para explicar, mas é ótima.
13) Lorenzo (Baker Bloodwarth, lápis sobre papel e computador 2D 3D, CURTAS 10) - É incrível como a Disney é outro patamar, principalmente com relação à técnica. Bem legal.
14) Le Portefeuille (Vincent Bierrewaerts, lápis sobre papel, CURTAS 13) - Eu disse que este top não tinha ordem de preferência. Pois bem, eu menti. Embora os outros estejam numa ordem aleatória, este aqui é o meu preferido. Para usar uma expressão criada pelo Mario, é um curta que trata do "dilema do taxista" (embora não haja nenhum táxi envolvido). Ou, em língua de gente, sobre as nossas escolhas mais triviais e como elas podem afetar nossa vida de maneiras inimagináveis. Recomendadíssimo. (A propósito: a ilustração do post é deste filme).

Estes foram os filmes que considero realmente imperdíveis. Mas há outros, não tão bons, que merecem citação: Annie & Boo (CURTAS 1), Cortex Academy, Rumeurs e Boxed In (CURTAS 2), Les Fables En Délire II (CURTAS 3), It Flies From Outer Space (CURTAS 5), Day Off The Dead (CURTAS 6), Un Jour Peut-Etre, Nest e 2D Or Not 2D (CURTAS 9), Billy Boy 900, Polar Bears 'Gary's Fall' e Micro-Loup (CURTAS 11), Das Floß (CURTAS 13), Le Foto Dello Scandalo (CURTAS 21), The Snowman (CURTAS 22), Café L'Amour (CURTAS 23) e The Toll Collector (CURTAS 24).

Deu para perceber que as melhores sessões são as primeiras. Para quem for em São Paulo, recomendo veementemente as de número 2, 3, 4, 5 e 13. Tem ainda um filme na curtas 8 que vale a pena ser conferido (e que não está em competição), chamado O Destino, baseado num projeto que Walt Disney tinha com Salvador Dalí. Outros filmes interessantes distribuídos pelas sessões 18, 19 e 20 são os da série The Ambiguosly Gay Duo, bem divertidos. O melhor está na curtas 18.

Quanto aos piores filmes, passe longe da sessões 14 e 15, imprestáveis. Os curtas brasileiros também são péssimos, mas é praticamente impossível não esbarrar com pelo menos um em cada sessão. Coisas como Desirella (CURTAS 8), Metástase (CURTAS 15), O Aniversário do Parmesão (CURTAS 17), Lar Doce Lar (Curtas 14) e O Fantasma Da Ópera (CURTAS 19) são constrangedores de tão ruins. Ia incluir o badalado O Curupira (CURTAS 7) nesta leva, pelo roteiro pífio, mas vou livrá-lo porque pelo menos a animação é bem feita. Ainda no quesito pior filme, acho que nenhum dos citados barra Eu Sem Você (CURTAS 8), inacreditável clipe do Vinny (!!) que consegue usar mal animação de recorte, 2D e, principalmente, 3D - o Dire Straits fazia melhor no clipe de "Money For Nothing". Talvez vire cult daqui a alguns anos.

É isso, então. Ano que vem talvez comente de novo. Nunca se sabe. Boa sorte para quem for assistir em São Paulo. Fiz o que pude para ajudar.

****

NOVO DOWNLOAD

O Anima Mundi me inspirou a trocar o download. Já está disponível o brilhante clipe do Röyksopp (duo nórdico de música eletrônica) para a música "Remind Me", que dá de mil a zero em todos os videoclipes exibidos no festival deste ano. É também conhecido como "o clipe do infográfico animado". Para baixar, vocês já sabem: basta clicar em "ninfetas virgens amadoras" e seguir as instruções. Outra coisa: "Ah! L'Amour", do Don Hertzfeldt, continuará disponível por tempo indeterminado. Acho o curta tão bom, e ele ocupa tão pouco espaço no meu disco virtual, que resolvi deixá-lo como donwload permanente. Oportunidade para assisti-lo é que não vai faltar, portanto.

****

E meus parabéns para quem leu o post até o final.



besuntado por Vitor Dornelles 23:57

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