EM DEFESA DO TREMA (E OUTRAS INUTILIDADES)Já manifestei no
Twitter meu desapreço pela reforma ortográfica, mas volto ao assunto porque acaba de pular no meu colo um exemplo para reforçá-lo. Como praticamente todos os grandes veículos de comunicação brasileiros,
O Globo aderiu às novas regras ortográficas no primeiro dia do ano. Se eu não soubesse disso, provavelmente teria demorado mais tempo para decifrar a seguinte notinha do plantão do site do jornal, publicada às 20h15 de hoje:
Mau tempo para Roda Rio 2016, mas programação é mantida mesmo com chuvaLi uma vez. Li duas vezes. Como assim? Tá rolando um mau tempo
para a roda-gigante? O que eles querem dizer com isso? Foi só na terceira leitura que a ficha caiu: era
para do verbo
parar.
Talvez outras pessoas tenham lido esta notinha e não encontrado nenhum problema para entendê-la de imediato. Mas sou obrigado a atribuir isso ao fato de que tais pessoas nunca souberam as regras ortográficas antigas. Porque a terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo
parar é, automaticamente para mim,
pára, com acento agudo.
É isso que me revolta nesta reforma ortográfica. Ela não veio para facilitar a compreensão da língua. Qual o objetivo de eliminar acentos diferenciais que não possuem outra função além de, ora bolas, diferenciar palavras que têm o mesmo som mas significados diferentes? A queda do acento diferencial só serve para aumentar a ambigüidade — com trema mesmo, já que este é o meu próximo tópico. Ambigüidade esta que só serve para diminuir a fluência do texto. Se o
pára tivese acento, não teria sido necessário ler a mesma frase 3 vezes para compreendê-la. O acento, neste caso, é simplesmente um recurso ortográfico para facilitar a compreensão.
O mesmo se aplica ao trema. Qual a função do trema? Oras, ele serve para indicar quando você deve pronunciuar o "u" nas combinações "que", "qui", "gue" e "gui", onde nem sempre esta vogal é pronunciada. O trema é simplesmente um guia de pronúncia. Algo que visa a facilitar a leitura, simplesmente. Se você nunca ouviu a palavra "lingüiça", sabe que ela deve ser pronunciada diferente de "preguiça", graças ao trema. É nada mais, nada menos, do que um facilitador. Que mal há nisso?
Mas a principal razão para eu ser contra a reforma ortográfica é o fato de que nunca mais vou poder escrever "pinguim" no lugar de "pinguinho". Sempre, sempre, vão achar que estou falando de "pingüim", a ave. Querem matar o Guimarães Rosa que existe dentro de mim (o que talvez não seja tão ruim assim, mas, ora bolas, deixem-me ser ranzinza).