janeiro 07, 2007

 
NADA DO QUE FOI SERÁ

Quando eu estava no Jardim de Infância achava os alunos do C.A. tão grandes que, na minha cabeça, eles eram alunos da 5ª série. No entanto, eu sabia que a escolinha em que eu estudava não tinha 1ª série, nem as séries subseqüentes. Por isso, imaginava que, ao concluir o C.A., os alunos íam para outra escola, estudavam da 1ª à 4ª série e depois retornavam unicamente para fazer a 5ª. O que acontecia depois era um mistério. Ao mesmo tempo, uma coisa me intrigava (embora eu não soubesse o que era estar intrigado com alguma coisa): onde diabos eles escondiam os alunos do C.A.?

****

Ainda no Jardim de Infância, havia dois alunos de turmas mais adiantadas (algo entre o Jardim II e a 5ª série imaginária) que me apavoravam. Um eu apelidei de homem-macaco, por causa das cambalhotas que ele fazia no pátio, geralmente com o auxílio de umas barras paralelas que, pensando bem hoje em dia, talvez só existissem na minha imaginação. Ele usava óculos e, por incrível que pareça, tinha feições simiescas. Meu medo era que ele tentasse fazer alguma acrobacia perto de mim e acabasse me machucando. A outra era uma garota que comia papel. Ela geralmente participava das mesmas rodas de galinha-choca que eu. Lembro-me de uma vez, no meio de uma degustação de celulose, em que ela se virou para mim e, sem motivo aparente, disse que só iria se casar quanto tivesse "isso, isso, isso, isso e isso de anos", e mostrou cinco vezes as mãos espalmadas, indicando "dez". Aquilo me assustou porque achei que fosse um pedido de casamento. E eu definitivamente não queria me casar com a garota que comia papel, mesmo que demorasse 50 anos.

****

Quando a minha irmã mais nova tentava me aterrorizar mostrando a capa de um disco da Rita Lee, a única defesa possível era me agachar, botar a camisa por cima das pernas e, desta maneira, me fingir de anão. Ela sempre saía correndo.

****

Durante uma aula do C.A. recebemos a visita de um ex-aluno. Ele estava cursando a primeira série e usava um casaco de moletom e um relógio digital. Achei aquilo muito cool (apesar de não fazer idéia de que a palavra cool existia — meus conhecimentos de inglês limitavam-se a boy, girl e ant, como me ensinou a própria escolinha em suas aulas de conhecimentos básicos de inglês). Tão cool que decidi: quando deixasse a escola iria retornar para visitá-la usando um relógio digital (não via a necessidade do moletom). Foi o que eu fiz, no fim das contas, com a desvantagem de que não me senti nem um pouco cool. Na verdade aquele negócio de relógio digital incomodava pra caramba o meu pulso.

****

Com 3 ou 4 anos de idade, eu achava que um dos meus tios era o Lulu Santos. Tudo porque, durante um karaokê dos adultos a que eu assistira, ele interpretara "Como uma onda". O problema é que eu não sabia o que era um karaokê, e assumi que a música era do meu tio — a partir daquele momento, também um cantor cujas músicas tocavam no rádio. Levou alguns anos até eu compreender que ele era só ortopedista e não tinha um nome artístico.

besuntado por Vitor Dornelles 23:53

Voltar para Repolhópolis

Google
 
Web repolhopolis.blogspot.com

Oba Fofia
A Vida Tem Dessas Coisas
Alexandre Soares Silva
Anamorfoses
Bard do Moe
Barriga Verde
Big Muff
Bla-Bla-Blog
Bumerangue!
Coisinha Supimpa
Copy-Paste
De Volta A Zenn-La
Dois Vezes Um
Esferográfica
Escrevescreve
Eufonia
Failbetter
Filthy McNasty
Gi em SP
H Gasolim Ultramarino
Letras Mortas
Londrisleblogui
Longo Caminho
Los Olvidados
Marcão Fodão
Mau Humor
Nobre Farsa
Noites Na Cidade
Non Sequitur
Os Conspiradores
Palmeirense Falador
Pensar Enlouquece
Perséfone
Pulso Único
puragoiaba
Radar Pop
Rapadura Açucarada
Ricardo Westin
Tédio Profundo
Terceira Base
These Are The Contents...
TV e Cerveja
Veríssimos
24/7
Zeus Era Um Galanteador


Bitter Films
KCRW
Miniclip
xkcd
Orisinal
Pitchfork
the ispot






This page is powered by Blogger. Isn't yours?


View My Stats

Creative Commons License
Blog licensed under a
Creative Commons
License