janeiro 21, 2007

 
JAMES MERCER É UM GÊNIO





Quando o terceiro disco do The Shins, Wincing The Night Away, surgiu inesperademente na internet, em outubro de 2006, fui um dos primeiros a baixá-lo. Na época, muita gente se perguntou se aquela seria realmente a versão final. A dúvida se justificava pela então longínqua data oficial de lançamento: 23 de janeiro de 2007, 3 meses depois (agora também conhecida como depois de amanhã). Contudo, bastou uma audição para perceber que aquele era o produto final, e não um punhado de versões demo. A verdade é que o disco estava pronto desde meados de 2006, mas a Sub Pop, atual gravadora dos rapazes de Albuquerque, por motivos incompreensíveis, decidiu adiar o disco para o ano seguinte. Por esta razão, Wincing The Night Away não figurou na lista de melhores de 2006 da crítica especializada. Na minha lista, porém, que não se preocupa com detalhes cronológicos, ele ocupa um mais do que merecido primeiro lugar (foi mal, Peter, Bjorn and John).

Desde 2003 sem lançar nada inédito (com exceção de uma música excelente para a trilha sonora do filme do Bob Esponja), a banda responsável pelos despretensiosamente geniais Oh, Inverted World e Chutes Too Narrow (especialmente este último) encabeçava sem esforço a minha lista de "discos mais aguardados da década". Embora o excesso de expectativa costume atrapalhar a fruição de qualquer coisa, isso não aconteceu comigo quando ouvi Wincing The Night Away pela primeira vez. O segredo, talvez, esteja no fato dele não ser nada do que você espera de um disco do The Shins.

Lendo fóruns por aí, percebi que os fãs mais ranhetas — aqueles que nunca superaram Oh, Inverted World — detestaram o disco. A maioria só conseguiu gostar moderadamente de "Australia" e "Turn On Me", as únicas músicas que têm um quê de Chutes Too Narrow, por serem (quase) ensolaradas e radiofônicas. Wincing The Night Away, porém, como o próprio nome parece sugerir, é um disco avesso à luz do sol. Se tivesse que defini-lo em uma palavra, não titubearia em classificá-lo como "noturno". Exatemente. "Noturno", não "soturno". Ouvi-lo à noite, com as luzes apagadas, usando fones de ouvido, é quase pré-requisito para uma apreciação completa de suas 11 canções.

Tudo começa com "Sleeping Lessons", que por pouco não deu nome ao disco. Um tecladinho discreto antecede os primeiros versos cantados por James Mercer. Aos poucos, outros instrumentos vão sendo adicionados, até que finalmente a música explode com bateria e guitarra. Você dá um sorriso e percebe que já foi fisgado. As letras poéticas e gigantescas, quase sem refrão, continuam lá. Mas alguma coisa mudou.

"Australia" vem em seguida, mais pop, com jeitão de single em potencial, e por três minutos e cinqüenta e seis segundos você é levado a pensar que talvez esteja diante de uma continuação do Chutes Too Narrow. Só para vir "Pam Berry" e, com seu instrumental esquisito e vocal etéreo, estilhaçar sua expetativa em mil pedacinhos. Menos de um minuto depois, a quase-vinheta te joga direto em "Phantom Limb" (escolhida para ser o primeiro single e disponível para download aqui) Em duas palavras: linda, linda. Enquanto você ainda se recupera, eis que o disco começa pra valer. "Sea Legs".

Linha de baixo "funkeada", bateria repetitiva aparentando ser eletrônica, tecladinhos e violinos. "Sea Legs" é a faixa-chave, a que resume tudo. Se você não gostar dela, desista. Esse disco, definitivamente, não é para você. Ao final da música fica claro onde foi parar a influência de rock psicodélico que os integrantes da banda mencionaram durante as gravações. A ótima "Red Rabbits" vem em seguida, com o clima onírico salientado por um teclado aqüoso (!?).

"Turn On Me", a mais fraca do disco (embora esteja longe de ser ruim), dá uma quebrada no clima, que é retomado com maestria por "Black Wave". Se você ainda não entendeu o que eu quis dizer com "disco noturno", este é o momento da epifania. O violãozinho solitário, o teclado esparso, a voz de James Mercer ecoando: tudo evoca noite. Encaixando-se perfeitamente no fade-out vem "Spilt Needles", talvez a única música capaz de tirar de "Sea Legs" o título de melhor do álbum.

"Girl Sailor", conhecida anteriormente pelos fãs sob a alcunha de "Won One Too Many Fights", é uma música fofa, que dá a impressão de que o sol está para nascer a qualquer momento. E não dá outra: os passarinhos já estão cantando quando começa a introspectiva "A Comet Appears", última faixa do disco. Então você acorda e percebe que é hora de dar play para ouvir tudo de novo. E de novo. E de novo. E de novo...

****

Wincing The Night Away dificilmente fará do The Shins uma banda mais popular. É um disco complexo — embora recompensador — que deve passar batido por gostos musicais menos apurados. Acredito até numa redução na base de fãs. Isso é péssimo, claro, especialmente para os brasileiros, já que um disco fracassado diminui as chances de shows no país. Mas se esse é o preço que temos que pagar pela existência desta obra-prima... Que seja. Só espero que eles não desistam.

p.s.: O álbum todo está disponível em streaming na página deles no Myspace.

besuntado por Vitor Dornelles 23:00

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