NA OFICINAAchando que meus dois pneus dianteiros estivessem furados, fui até o borracheiro mais próximo. Enquanto aguardava a retirada do primeiro pneu, ouvi uma freada brusca na rua. Um Uno vermelho parou na calçada oposta. Antes que me desse conta do que estava acontecendo, um rapaz de cerca de vinte anos, usando óculos escuros e camiseta branca, saltou da porta do motorista. Começou a gritar com os dois marmanjos encostados no muro. Um minuto atrás eles tentavam limpar os para-brisas dos motoristas incautos. Tinham parado para descansar quando o rapaz exaltado chegou.
— Onde é que tu mora?, berrou.
Foi a única coisa que consegui entender da gritaria. Logo em seguida percebi que o rapaz de camiseta branca estava armado. Primeiro, quando ele levantou de propósito a camiseta, deixando à mostra o revólver na cintura. Depois, quando ele sacou a arma e ameaçou os limpadores de vidro. Neste momento decidi que era uma boa idéia me esconder nos fundos da oficina.
O rapaz de camiseta branca berrou mais um pouco e, tão repentinamente como chegou, foi embora.
— Você viu isso?, perguntei pro mecânico mais próximo.
— Ah, é assim todo dia.
E ainda por cima não havia furo nenhum.