março 28, 2006

 
MACACO TIÃO

Eu voto nulo para presidente desde que tirei meu título de eleitor. Por conta disso, sempre que eu declarava meu voto em público, aparecia alguém para botar o dedo na minha cara e dizer "Mas como?! O voto é a arma mais poderosa do cidadão! O voto é sagrado! O voto traz lasanha pra você na hora do almoço!", e depois me encarar com uma cara de nojo, como se eu fosse um invertebrado que não compreende a beleza da democracia.

"Ora, bolas", pensava eu, "por que diabos eu sou obrigado a escolher entre FHC e Lula? Ou entre Serra e Lula? Sinceramente: passo. Esse pessoal que vá catar coquinho no asfalto quente."

Pois de uns tempos pra cá, influenciada pelos escândalos políticos recentes, a mesma galerinha que costumava me apontar na rua aos gritos de "Anulador subversivo!" - geralmente eleitores do Lula - chegou à brilhante conclusão de que, ora veja, o voto nulo até que é uma opção válida.

Ah, não, isso eu não admito. Depois de anos me enchendo o saco dizendo que o voto nulo é o grande satã, que o voto nulo bate nas criancinhas, que o voto nulo acaba com o resto da sobremesa na geladeira, agora esse pessoal resolveu aderir à minha mui consciente e estimada opção de voto? Onde está a coerência? O que aconteceu com a arma mais poderosa do cidadão? Só porque o Sassá Mutema jogou mal eles agora querem levar a bola embora e não brincar mais? Protestar só é válido quando o seu time perde?

Esse súbito apoio das massas à eterna candidatura do Macaco Tião fez com que eu repensasse meu voto. Alinhar-me com a "modinha", mesmo que involuntariamente, poderia fazer mal à minha imagem. Claro que esse pensamento durou apenas dois segundos. Continuo firme na intenção de anular meu voto, mesmo tendo a vaga esperança de, assistindo ao horário eleitoral, encontrar algum candidato que me faça mudar de idéia.

Na verdade, eu queria mesmo é que existisse o voto contra. Sem dúvida, uma forma muito mais eficiente de protesto. Funcionaria como naqueles concursos públicos em que uma questão errada anula uma certa. Imagina só, a quantidade de candidatos com votos negativos! Poderiam estipular um número mínimo de votos, e quem ficasse abaixo do exigido seria banido da política por alguns anos. O principal efeito disso seria a redução do número de candidatos, que não iam achar nada legal pagar o mico de, sei lá, ter menos 10 mil votos. E, levando em conta o quão rancorosos são os eleitores, quase ninguém arriscaria uma candidatura à reeleição, pelo menos não sem ter certeza absoluta de onde está pisando.

Taí. Se eu pudesse votar contra, juro até que acordaria bem disposto em dia de eleição. Iria feliz à zona eleitoral fazer uso da minha - agora sim - poderosa arma de cidadão. E quando a urna perguntasse contra quem eu gostaria de votar, abriria um sorriso para digitar o número do Garotinho. Só assim para eu nunca mais anular meu voto.

besuntado por Vitor Dornelles 23:38

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