MACACO TIÃOEu voto nulo para presidente desde que tirei meu título de eleitor. Por conta disso, sempre que eu declarava meu voto em público, aparecia alguém para botar o dedo na minha cara e dizer "Mas como?! O voto é a arma mais poderosa do cidadão! O voto é sagrado! O voto traz lasanha pra você na hora do almoço!", e depois me encarar com uma cara de nojo, como se eu fosse um invertebrado que não compreende a beleza da democracia.
"Ora, bolas", pensava eu, "por que diabos eu sou obrigado a escolher entre FHC e Lula? Ou entre Serra e Lula? Sinceramente: passo. Esse pessoal que vá catar coquinho no asfalto quente."
Pois de uns tempos pra cá, influenciada pelos escândalos políticos recentes, a mesma galerinha que costumava me apontar na rua aos gritos de "Anulador subversivo!" - geralmente eleitores do Lula - chegou à brilhante conclusão de que, ora veja, o voto nulo até que é uma opção válida.
Ah, não, isso eu não admito. Depois de anos me enchendo o saco dizendo que o voto nulo é o grande satã, que o voto nulo bate nas criancinhas, que o voto nulo acaba com o resto da sobremesa na geladeira, agora esse pessoal resolveu aderir à minha mui consciente e estimada opção de voto? Onde está a coerência? O que aconteceu com a arma mais poderosa do cidadão? Só porque o Sassá Mutema jogou mal eles agora querem levar a bola embora e não brincar mais? Protestar só é válido quando o seu time perde?
Esse súbito apoio das massas à eterna candidatura do Macaco Tião fez com que eu repensasse meu voto. Alinhar-me com a "modinha", mesmo que involuntariamente, poderia fazer mal à minha imagem. Claro que esse pensamento durou apenas dois segundos. Continuo firme na intenção de anular meu voto, mesmo tendo a vaga esperança de, assistindo ao horário eleitoral, encontrar algum candidato que me faça mudar de idéia.
Na verdade, eu queria mesmo é que existisse o voto contra. Sem dúvida, uma forma muito mais eficiente de protesto. Funcionaria como naqueles concursos públicos em que uma questão errada anula uma certa. Imagina só, a quantidade de candidatos com votos negativos! Poderiam estipular um número mínimo de votos, e quem ficasse abaixo do exigido seria banido da política por alguns anos. O principal efeito disso seria a redução do número de candidatos, que não iam achar nada legal pagar o mico de, sei lá, ter menos 10 mil votos. E, levando em conta o quão rancorosos são os eleitores, quase ninguém arriscaria uma candidatura à reeleição, pelo menos não sem ter certeza absoluta de onde está pisando.
Taí. Se eu pudesse votar contra, juro até que acordaria bem disposto em dia de eleição. Iria feliz à zona eleitoral fazer uso da minha - agora sim - poderosa arma de cidadão. E quando a urna perguntasse contra quem eu gostaria de votar, abriria um sorriso para digitar o número do Garotinho. Só assim para eu nunca mais anular meu voto.