EM TERRA DE CEGOA convivência com pessoas muito burras é um ótimo exercício de tolerância, mas tem pelo menos dois efeitos colaterais desagradáveis e intimamente relacionados entre si.
O primeiro, e mais fácil de notar, é a perda de referencial, que leva à presunção crônica. Você, pessoa de inteligência razoável, começa a se achar um gênio. Sente-se capaz de revolucionar a física teórica e de estabelecer novos cânones filosóficos. Pior, considera já ter ultrapassado todos os limites da inteligência humana e não consegue mais disfarçar a imutável expressão de tédio no rosto.
Isso, claro, até encontrar uma pessoa de inteligência razoável que não conviva com pessoas muito burras, e perceber o segundo efeito colateral: o seu próprio emburrecimento - ali, na sua cara, palpável como o concreto e progressivo como a decomposição.
Sem dúvida, o maior problema da burrice é ser contagiosa. E ela vai se entranhando tão furtivamente que, por um tempo, você pensa que não há nada de errado. Até que um dia, sem se dar conta, você perde a vontade de aprender coisas novas e atribui isso ao seu excesso de sapiência. Um perigo.
Meu conselho: exercite a tolerância de outra forma. Vire judeu e vá morar em território palestino. Sei lá. Qualquer coisa é melhor do que emburrecer.