dezembro 17, 2005

 
ELESBÃO VELOSO

Quase seis anos atrás, eu arranjei meu primeiro emprego: um estágio em reportagem na Folha Dirigida. Quer dizer, oficialmente não era bem um estágio. Eles nos chamavam de "alunos do curso de jornalismo", o que na prática era uma desculpa para pagar um salário menor do que o de um estagiário de verdade. Eu ganhava, nunca vou me esquecer, exatos R$ 180,00.

A FD dividia-se em três editorias principais: concursos, empregos e educação. Meus quatro primeiros dias em concursos foram um suplício. Minha função era ligar para todas as cidades existentes no Amapá e perguntar se havia previsão de algum concurso em breve. Sabia que não ia agüentar aquilo por muito mais do que uma semana, quando, num golpe de sorte, fui transferido para a editoria de educação. Apesar de ser obrigado a trabalhar em alguns sábados (e, de vez em quando, aos domingos), aquela era sem dúvida a melhor editoria para um foca como eu. Tive a oportunidade de fazer várias matérias na rua, entrevistar um sem número de pessoas e não ter que me preocupar com o próximo concurso da prefeitura de Água Preta. Nem os jabás - como ter que cobrir "aulão" de curso pré-vestibular ou apresentação teatral em colégio - me irritavam.

Mas, bem, estou me desviando do assunto. Apesar de trabalhar em educação, tinha muitos amigos na editoria de concursos. Um deles, também amigo de faculdade, que entrara na FD no mesmo dia que eu, certa vez me contou de um concurso que estava cobrindo:

— É da prefeitura de Elesbão Veloso.

Não pude conter o riso.

— Peraí... Como? Elesbão Veloso? Você tá de sacanagem, né?
— Não, é sério, rapaz. Olha aqui o edital.

Li com atenção. Ele estava realmente falando sério.

— Mas não é que Elesbão Veloso existe mesmo? Tem vaga pra quê?
— Prum monte de coisa. Mas a melhor é essa aqui.
— Coveiro?
— É, coveiro em Elesbão Veloso. Dá uma olhada no salário.
— Deixa eu ver... Rapaz, agora fiquei revoltado!
— Por quê?
— A gente ganha menos do que um coveiro em Elesbão Veloso!

A partir daquele dia, o salário de coveiro em Elesbão Veloso virou meu indicador financeiro para tudo. Eu pensava, por exemplo, em quantos almoços a mais eu poderia pagar se fosse um coveiro em Elesbão Veloso em vez de um sub-estagiário de um jornal carioca ultra-especializado. Ok, na verdade eu pensava em quantos CDs a mais eu poderia comprar com o salário de um coveiro em Elesbão Veloso, mas, bem, não tive muito tempo para pensar em outras coisas porque, pouco depois, fui promovido a estagiário de verdade e passei a ganhar mais do que um coveiro em Elesbão Veloso. Mas nem tanto assim.

Corta para hoje em dia.

Acabo de criar minha primeira cidade em Sim City 4. Seu nome? Repolhópolis™, claro. Mas não dá muito certo. Tento basear a economia na agricultura, mas as fazendas não se desenvolvem direito. Acabo me afundando em empréstimos e a população da cidade cai a zero. Entro numa espiral de déficits até ser obrigado a deixar o cargo de prefeito.

Não desisto, e crio minha segunda cidade: Elesbão Veloso, meu nome de cidade preferido desde o início da década. Desta vez consigo fazer a coisa engrenar. Sou obrigado a legalizar o jogo e a aceitar bases militares na cidade para aumentar a receita, mas nada demais. Há algum desemprego no momento, e as ruas estão esburacadas porque cortei a verba da manutenção. Ainda assim é uma boa cidade, principalmente perto da praia. Recentemente ultrapassamos a marca dos 25 mil habitantes e tivemos que inaugurar nosso segundo cemitério. Mais vagas para os coveiros em Elesbão Veloso. Pode parecer estúpido, mas isso me deixa feliz.

besuntado por Vitor Dornelles 01:32

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