SAUDADES DO FUSCAJá repararam que, considerando o período pós-ditadura, o Brasil nunca esteve tão bem quanto em 1994? Vejam bem: a inflação havia sido controlada. O real valia a mesma coisa que o dólar. Não havia nenhum escândalo de corrupção nos noticiários. Um pão francês custava oito centavos. Pulp Fiction estava em cartaz nos cinemas. Depois de 24 anos sem um título, a seleção finalmente havia ganhado uma Copa.
Se o Brasil ia bem, eu, em contrapartida, ia mal. Definitivamente não guardo boas recordações de 1994. Tinha 14 anos. Início da adolescência, espinhas surgindo do nada, hormônios em ebulição. Eu odiava o colégio em que estudava há oito anos, só tinha dois amigos no mundo (um deles com óbvios problemas mentais) e não havia nenhuma mulher num raio de 10.000 quilômetros disposta a me dar. Nada que me inspire um pingo de nostalgia, acreditem. Mas, apesar disso tudo, e considerando o momento atual do Brasil, não consigo impedir essa saudade da URV.
O mais incrível, no entanto, é pensar que tudo isso aconteceu quando o Itamar era presidente.