CENTRO ACADÊMICO"No começo dos anos 30, por causa da depressão", Gould continuou, "muita gente do Village passou a se interessar pelo marxismo e se tornou radical. De repente, a maioria dos poetas daqui viraram poetas do proletariado, e a maioria dos romancistas viraram romancistas do proletariado, e a maioria dos pintores viraram pintores do proletariado. Conheço uma mulher que é casada com um médico rico, coleciona obras de arte e tem uma filha que dança balé, e um dia a encontrei por acaso, e ela me informou, com muito orgulho, que agora sua filha era uma bailarina do proletariado. O problema é que, quanto mais radicais, mais sabichonas essas pessoas se tornavam. E mais cheias de empáfia. Sentavam-se nos mesmos lugares do Village que freqüentavam quando eram apenas boêmios comuns e falavam tanto quanto antes, só que agora não falavam sobre arte, sexo ou bebida, e sim sobre a revolução eminente e o materialismo dialético e a ditadura do proletariado e o que Lenin quis dizer com isso e o que Trotski quis dizer com aquilo, e agiam como se alguma de suas conclusões a respeito desses assuntos pudesse ter um grande efeito sobre o futuro do mundo inteiro. Em outras palavras, perderam completamente o senso de humor."(Joe Gould, o mendigão sábio, em trecho da famosa reportagem
O segredo de Joe Gould, do igualmente famoso jornalista americano Joseph Mitchell, publicada em 1964.)