POGO STICK MANJá comecei os preparativos para a minha volta ao mundo de pula-pula. Primeiro, resolvi me certificar de que nenhum outro demente havia conseguido tal façanha. Imaginei que dar a volta ao mundo de pula-pula seria um feito digno do
Guinness Book. Peguei minha edição de 1996 do livro (você não achou que eu não fosse ter um exemplar do Guinness, né?) e não havia referência nenhuma a pula-pulas na seção de "volta ao mundo".
Os únicos recordes relacionados a pula-pulas, na verdade, pertencem a Gary Stewart, pelo maior número de pulos consecutivos - 177.737 - em Huntington Beach, Califórnia, de 25 a 26 de maio de 1990, e a Ashrita Furman, de Jamaica, Nova York, que percorreu a distância de 27,75 km em 6h40 no dia 8 de outubro de 1993, em Gotemba, Japão. Essa Ashrita Furman, aliás, conseguiu em 1999, de acordo com o site do Guinnes, a subida mais rápida de pula-pula até o topo da CN Tower, em Ontario, Canadá. Ela venceu os 1.899 degraus em 57 minutos e 51 segundos. Além disso, ela detém o recorde de maior distância percorrida equilibrando uma garrafa de leite na cabeça: 130,3 km. Osso duro, essa mulher. Espero que ela não seja tão megalomaníaca quanto eu e resolva dar a volta ao mundo também. Seria uma competição braba.
Pelos recordes acima deu para perceber que é difícil percorrer longas distâncias com um pula-pula. Quanto tempo eu levaria para dar a volta ao mundo, então? Imagino que um pula-pula se locomova mais rápido do que uma pessoa andando. Porém, deve ser mais cansativo e dificilmente consegue-se pular mais do que algumas horas por dia. Segundo a minha edição do Guinness, a primeira "volta ao mundo a pé" confirmada foi do norte-americano David Kunst, que cobriu 23.250 km em quatro continentes, de 20 de junho de 1970 a 5 de outubro de 1974, o que dá pouco mais de 4 anos. A maior distância percorrida a pé ao redor do mundo, no entanto, pertence (ou pertencia, até 1996) a Arthur Bessitt, de North Fort Meyers, Flórida, que durante mais de 25 anos percorreu 49.117 km, passando pelos 7 continentes, inclusive a Antárdida, carregando uma cruz de 3,7 m e pregando durante o trajeto. Como não pretendo passar exatamente pelos 7 continentes e não tenho nenhuma intenção evangelizadora, acredito que a minha volta ao mundo de pula-pula deve durar entre 4 e 6 anos. Um período de tempo aceitável, eu diria.
Para empreender esta aventura psicótica, certamente precisarei de mais de um pula-pula. O ideal, portanto, é ter entre os patrocinadores um fabricante de pula-pulas. O problema é que aqui no Brasil aparentemente não existem fabricantes de pula-pula. Como pude constatar pelos anúncios do Google que surgiram nas últimas horas, pula-pula no Brasil é, pelo menos hoje em dia, sinônimo daqueles brinquedos infláveis de festa de criança rica, muito comuns também em parques de diversão vagabundos. A solução seria entrar em contato com um fabricante dos Estados Unidos.
Pesquisei alguns modelos de pula-pula estrangeiros. O mais falado é o tal do
Flybar, cujo apelido é "o pula-pula do século XXI". É caríssimo, custa 300 dólares na
Amazon. Pelo que eu entendi, o Flybar é um pula-pula radical. Seu grande chamariz é conseguir dar pulos acima de 1,5 m (dizem que o recorde é 2,5 m). Parece bastante durável, mas não sei se é recomendável para pessoas inabilidosas percorrendo grandes distâncias. As outras opções seriam o
Rawlings Pogo Pro 1000 e o
Razor AirGo, que têm uma cara mais tradicional, preço mais baixo e parecem confiáveis. De todo modo, não descarto usar um Flybar, principalmente se eles resolverem me patrocinar.
O site em que encontrei o Razor AirGo, aliás, apesar do layout horrível tem algumas
dicas interessantes para manutenção do pula-pula e de segurança na hora do exercício. Nele eu descobri que não posso usar o pula-pula na grama ou na areia. Meu trajeto terá que ser todo pelo asfalto. Pressinto que cruzar o Brasil será, por si só, uma tarefa inglória e digna de inveja.
Além do fabricante de pula-pula, seria legal encontrar outros patrocinadores. Uma companhia de celular, por exemplo. Seria ótimo para mostrar como os celulares da companhia X funcionam bem no mundo todo e são de fácil operação até para os membros mais estúpidos da raça humana - os que dão a volta ao mundo de pula-pula, por exemplo. E por que não a Apple? Poderiam fornecer Macs para que eu Reca nos conectássemos à Internet nos momentos de descanso e mantivéssemos atualizado o site com as últimas notícias da aventura mais imbecil de todos os tempos. Seria desejável também o patrocínio de um fabricante de máquinas digitais. A Cannon, por exemplo, poderia ceder uma filmadora para o documentário a ser filmado pela Reca e também uma máquina fotográfica de qualidade, para registrar meus saltos empolgantes na contraluz, tendo ao fundo, sei lá, a savana africana.
Imagino a comoção que eu causaria ao passar por cada país. Nos Estados Unidos eu poderia até ser convidado a dar uma passadinha no David Letterman. Ou na Oprah. Eu seria conhecido como o "pogo stick guy". Logo iriam me chamar para aparecer em todo tipo de comercial. Já posso ver a minha silhueta com pula-pula num comercial do iPod. Em cada cidade do interiorzão que eu passasse, faixas de "Welcome Pogo Stick Guy". Haveria, claro, a chance de algumas pessoas me tacarem ovos e legumes, principalmente adolescentes desocupados, mas este seria um pequeno preço a se pagar pela fama mundial. Quando eu voltasse ao Brasil, provavelmente seria entrevistado pelo Jô Soares. E daria uma demonstração das minhas habilidades no palco. Seria convidado para todas as festas VIPs existentes, nas quais eu sempre apareceria em cima do pula-pula. Aposto até numa ponta em Malhação, ou na nova novela das oito. No Fantástico eu certamente apareceria antes, quando estivesse dando a volta ao mundo. Depois do lançamento do meu livro e do documentário, viriam as palestras para executivos. E, em pouco tempo, eu seria contactado pelo David Lynch, interessado em filmar a minha história inacreditável. O filme seria um dos hits do próximo verão:
Pogo Stick Man. Eu entraria para a galeria de brasileiros notáveis, ao lado de Santos Dumont, Pelé e Cauby Peixoto. Depois viria o culto. E eu seria referência para várias gerações de malucos.
Não é por nada não, mas estou pensando seriamente em abandonar o jornalismo.
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Enquanto não arranjo um pula-pula, o remédio é jogar
Pogo Stick Olympics.