abril 08, 2005

 
NO MEIO DA NOTÍCIA

Estava indo da Barra para Botafogo quando fui surpreendido por um engarrafamento no viaduto de acesso ao elevado do Joá. Apesar de atípico para as quatro e meia da tarde, não dei importância. Estava ouvindo o recém-adquirido disco do Fiery Furnaces e relaxei. Passadas duas músicas, percebi que não havia me movido mais do que dois metros. Desconfiei que havia algo errado naquela aglomeração de automóveis.

Olhei para a direita e vi um carro voltando de ré no acostamento. "Um apressadinho", pensei. Alguns minutos depois, outro carro fazendo a mesma coisa. "Hum...". Em seguida, uma fila de carros no acostamento voltando pela contramão. Achei aquilo tudo muito estranho e resolvi aderir. Algumas manobras depois e eu já estava no acostamento, observando os rostos incrédulos de quem passava na direção contrária e, alguns metros depois, fazia também a meia-volta.

Uma vantagem da era do celular e da Internet é que você pode descobrir a causa de um engarrafamento esquisito em tempo-real. Lembro-me de quando eu era moleque e voltava com meus pais de Niterói. Ficamos presos por muitas horas na entrada da Ponte, sem que o carro se movesse. Só no dia seguinte descobrimos a causa do monstruoso congestionamento: um navio havia batido num dos pilares da Ponte, o que ocasionou seu fechamento. Mas como eu ia dizendo, hoje em dia você só precisa dar um telefonema para saber imediatamente "o quê que tá pegando". Liguei para a minha namorada e em menos de um minuto ela descobriu que havia um "incêndio de grandes proporções num supermercado em São Conrado". E que a auto-estrada Lagoa-Barra estava fechada nos dois sentidos.

Devidamente informado da gravidade da situação, e imaginando que não iriam reabrir as pistas tão cedo, percebi que fizera bem em unir-me aos carros no acostamento. Porém, mais uma vez estava tudo completamente parado. Nas pistas de subida, não havia nenhum carro. Depois de alguns minutos sem que nada acontecesse, uns 30 carros e ônibus finalmente subiram e começaram a executar a meia-volta num ponto mais atrás. Neste momento, a contramão oficializou-se, e tomamos as duas pistas, além do acostamento.

O problema é que havia dois interesses conflitantes. Os motoristas que queriam abandonar o viaduto pela contramão e a fila, literalmente quilométrica, de veículos que queriam seguir em frente, a maioria sem saber o que estava acontecendo. Nesta hora, tudo parou novamente. Enquanto os motoristas que estavam no ponto de interseção dos dois fluxos tentavam se entender, decidi desligar o motor, puxar o freio de mão e abrir a janela. O sujeito na minha frente já havia feito o mesmo e estava do lado de fora do carro, com a porta aberta.

Havia o espaço de uma pista entre o meu carro e os imediatamente à minha esquerda, por causa de um ônibus que acabara de passar na direção oposta. Os motoristas desses carros estavam enconstados na mureta do viaduto, conversando entre si. Um deles, que a princípio julguei ser um mendigão, por causa do seu despojamento visual, cumprimentou o sujeito à minha frente e trocou algumas palavras. Depois, olhou para mim, perguntando alguma coisa. Só aí eu percebi que o mendigão era o Matheus Nachtergaele, com uma camisa quase toda desabotoada, calça largona e sandálias. Não tive tempo de responder porque neste momento o trânsito voltou a fluir e todos correram para seus respectivos carros.

Não havia absolutamente ninguém da CET-Rio coordenando a bagunça. Tudo se resolveu na base da camaradagem. O ônibus e o carro que lideravam a fila completamente parada em direção ao elevado gentilmente abriram espaço para que os carros na contramão pudessem pegar o retorno que passa debaixo do viaduto. Alguns motoristas mais afoitos passavam por cima do canteiro. Havia até um sujeito aleatório, com uns pedaços de madeira que ele havia conseguido sabe-se lá onde, ajudando alguns motoristas a vencer o desnível. Uma van que estava à minha frente tentou passar por um pedaço mais alto do canteiro e ficou presa, com as rodas no ar. Pacientemente, esperei chegar até o ponto liberado para retorno e, enfim, tomei o rumo do Alto da Boa Vista, em direção a Botafogo.

Quem não conhece o Rio certamente não compreendeu o inusitado deste trajeto. Digamos que a Barra seja o ponto A e Botafogo o ponto B. O caminho que eu pretendia fazer antes do engarrafamento é quase uma linha reta.





Já indo pelo Alto da Boa Vista, o caminho é mais ou menos assim:





Mas o que importa é que eu cheguei em Botafogo a tempo de adquirir um lindo fogão quatro bocas da Electrolux, todo branco - que era o meu objetivo, afinal de contas.

besuntado por Vitor Dornelles 14:04

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