APROVADO (PARTE 1 DE ALGUMAS)Episódio de hoje: As provas mais fáceis da minha vida.
A mais fácil de todas. Era o último mês do ano de 1994 e eu acabara de concluir a 8ª série no colégio em que passara os oito anos mais longos e dolorosos da minha existência. Por um acaso divino, este mesmo colégio não oferecia o 2º grau e eu me vira obrigado a migrar para outro estabelecimento. Minha primeira opção era o Marista São José (para onde acabei indo, no fim das contas), mas meus pais, talvez por receio de que eu não passasse, insistiram que eu fizesse a prova de seleção para o colégio Batista Brasileiro - hoje extinto, e imagino bem por quê.
Depois de ter passado mais da metade da minha vida acadêmica em um colégio católico, tudo que eu não queria era estudar em um colégio batista. E num colégio batista ruim, ainda por cima. Definitivamente, o Batista Brasileiro não gozava de boa fama. Os próprios alunos do meu antigo colégio - que também não era uma instituição modelo - sacaneavam quem estudava no Batista. Não passar naquela prova tinha se tornado, portanto, uma espécie de questão de honra e - por que não? - de sobrevivência.
No dia do exame, cheguei disposto a zerar todas as questões. À medida que lia a prova, no entanto, percebi que estava diante de uma missão impossível. Aquela era, sem dúvida, a prova mais boçal em que já havia posto os olhos. Um insulto completo à minha inteligência. Não, mais do que isso: um insulto total e absoluto à inteligência dos tatus-bola! Eu não conseguia acreditar no que estava lendo. O nível de obviedade das questões era tão assustador que o meu impulso inicial de errá-las todas havia se convertido no contrário. Agora, o meu orgulho não permitiria que me levantasse da carteira sem gabaritá-las.
Pode parecer que estou me gabando, mas foram poucas as vezes em que tive que me segurar tanto para não gargalhar de alguma coisa. As questões de matemática eram, de longe, as mais hilárias. Exemplifico, para que compreendam melhor.
A figura acima ilustrava uma questão que pedia o valor da hipotenusa "a". A maioria deve se lembrar que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos - e que a hipotenusa é sempre maior do que os catetos. E, acreditem, estas eram as opções de resposta:
a) 1
b) 2
c) 3
d) 4
e) 5
Basicamente, não era preciso extrair uma raiz quadrada sequer. A resposta só podia ser 5. Qualquer orangotango bem treinado que tivesse freqüentado algumas aulas da 8ª série acertaria aquela questão.
Eu achava que nada poderia ser mais fácil do que aquilo, mas foi então que cheguei à questão que resumia brilhantemente o espírito da prova. Neste momento, eu tive que rir.
"Calcule o perímetro do quadrado"
Sim. Perímetro. Vou repetir: pe-rí-me-tro. Neste caso, uma simples conta de multiplicação: 2 vezes 4. Sim, isso caiu numa prova de acesso ao 1º ano do 2º grau. Uma questão de perímetro, que seria fácil até mesmo numa prova da 4ª série. E reparem na diagonal que puseram no quadrado, com o intuito de "confundir"! Hahahaha! (Será que só eu acho isso engraçado?)
Depois daquilo, eu tinha certeza de duas coisas: eu havia acertado tudo e não estudaria no Batista Brasileiro nem em camisa-de-força.
****
A segunda prova mais fácil da minha vida foi a de seleção para o colégio católico em que estudei da 1ª a 8ª série. Resumia-se a escrever ao lado de alguns desenhos seus respectivos nomes. Se houvesse uma casa, eu tinha que escrever "casa". Se fosse uma árvore, tinha que escrever "árvore". E assim por diante. A maior dificuldade da prova, na verdade, era descobrir o que eram os desenhos. Várias vezes tive que perguntar para a freira que tomava conta da prova o que significavam aqueles rabiscos. Mesmo com 7 anos de idade, aquilo me revoltou sobremaneira.
"Um nariz? Mas como é que alguém pode desenhar tão mal um nariz? É o pior nariz que vi em toda minha vida!"
Pois naquele momento eu decidi que tinha que passar de qualquer jeito para aquele colégio. E que, uma vez aprovado, ia ensiná-los a desenhar decentemente um nariz.