ELOGIO AO BARALHO
Vocês já pensaram em como o baralho é uma das maiores invenções de todos os tempos? São apenas 52 cartas, divididas em quatro naipes, que vão do 2 ao 10 e incluem valete, dama, rei, ás e curinga. É incrível como tão poucos elementos podem ser tão versáteis. Basta comparar com outros jogos famosos: xadrez sempre será xadrez, damas sempre será damas, ludo sempre será ludo, banco imobiliário sempre será banco imobiliário. Você pode até tentar mudar uma regra aqui ou ali, mas a essência permanecerá a mesma. Com o baralho isso não acontece. As possibilidades de jogo são praticamente infinitas. Você pode jogar sozinho ou com duas, três, quatro, às vezes até vinte pessoas - e nesse caso você só precisará de mais baralhos. Sueca, escopa, buraco, mau-mau, paciência, pôquer, desconfio e o diabo a quatro estão aí para confirmar o que eu digo. E, apesar de não ser uma prática muito comum, o baralho ainda permite que você crie o seu próprio jogo, com as suas próprias regras. É
open source muito antes da existência do
open source.
Existem ainda outras vantagem intrínsecas no baralho. Repare no design das cartas, em como é simples e bem bolado. Os valores são escritos de maneira que não exista lado de cima ou lado de baixo, o que permite uma visualização precisa do jogo. Os símbolos são perfeitamente distinguíveis uns dos outros e utilizam apenas duas cores. Além de tudo, as figurinhas no centro das cartas tornam o baralho acessível a analfabetos e até mesmo às pessoas sem-noção do Orkut. Um primor, sem dúvida.
E como é fácil de transportar, o desgraçado! A festa de família está muito chata? A reunião com os amigos esfriou? Basta puxar um baralho do bolso para fazer a alegria da galera. Sim, sim, quase me esqueço: o baralho é uma ótima forma de socialização, a maneira mais fácil e indolor de travar contato com desconhecidos, a salvação dos tímidos, o quebra-gelo perfeito. Se eu soubesse dos poderes do baralho quando era um adolescente espinhudo que não pegava ninguém, teria me dedicado mais em conhecer os diversos tipos de jogo que suas cartas permitem. Anotem essa dica, adolescentes espinhudos.
Quer mais? Pois através do baralho pode-se ganhar fortunas. Quantos já não ficaram ricos jogando black jack ou pôquer nos cassinos da vida? Muitos outros ficaram miseráveis pelo mesmo motivo, é fato, mas isto é apenas um detalhe que não chega a manchar a espetacular carreira do baralho.
Infelizmente não existe um "inventor do baralho" que possamos louvar. A enciclopédia aqui do meu quarto diz que ele se originou no oriente e é uma derivação do tarô. Expandiu-se sob a forma de gravuras em madeira pintadas à mão e posteriormente em impressão metálica. No ocidente, até o século XVII, os quatro reis eram Davi, Alexandre, César e Carlos Magno; as rainhas, Palas, Argina, Raquel e Judite; e os valetes, Heitor (oficial de Carlos VII), Ogier, o Danês (célebre cavaleiro andante), Lancelote e Lahire (nome de guerra de Éttiene de Vignolles). Os naipes também tinham uma significação. Copas era o clero, espadas era a nobreza, paus era o povo e ouros era a burguesia.
Ou seja, ainda por cima o baralho é uma invenção milenar. Ele é a prova de que a simplicidade é o segredo para a permanência. Não há como negar: o baralho, com sua imensa gama de possibilidades, é uma das maiores invenções do ser humano, ao lado do papel, da roda, do mousse de chocolate branco com manga e de Deus. Ié!
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Piadas com "caralho" não serão aceitas.