agosto 03, 2004

 
ALCEU E EU



Começou em 1997, quando meus pais foram passar duas semanas na Europa. Durante este período, eu e minha irmã nos mudamos para Ipanema, na casa dos meus tios. Num daqueles dias, perto do retorno dos meus pais, faltou leite. Eu, meu primo e meu tio estávamos no carro, voltando de algum lugar, quando o último se lembrou disso. Parou o veículo e disse:

— Vitor e André, desçam aí para comprar leite.

Entramos num estabelecimento que era botequim na parte da frente e mercadinho nos fundos - um desses híbridos estranhos que só existem no Rio. Estávamos pagando quando avistamos ele no balcão: Alceu Valença, tomando um cafezinho. Como bons cariocas, fingimos não tê-lo visto e voltamos para o carro.

— Pô, tio! Sabe quem tava tomando café no mercado? O Alceu Valença!

Não se falou mais nisso. E então meus pais voltaram. Na bagagem, além das diversas quinquilharias, trouxeram várias histórias (a maioria, obviamente, protagonizada pelo meu pai, mas isso não importa). Contaram que na viagem de ida o avião enfrentou turbulência e que havia uma, digamos assim, "personalidade" entre os passageiros:

— Como é que é o nome daquele cantor? Ah, sim, o Alceu Valença!

Ok, aquilo era bizarro. Duas semanas antes meus pais estavam num avião com destino a Portugal na companhia de Alceu. Com diferença de apenas alguns dias, encontrei Alceu também, desta vez em Ipanema, bebericando um copo de café no balcão de um boteco-mercadinho. Fizemos muitos "ós" e "que coindicência". E depois não se falou mais nisso.

Era o dia 20 de março de 1999 e eu completava 19 anos de idade. A comemoração seria na Cobal do Leblon, mas antes estava combinada uma passagem no Teatro do mesmo bairro, para assistir a uma peça cujo nome não me lembro. Foi uma festa esquisita. Muitas das pessoas presentes naquele dia eu não encontro há bastante tempo (algumas eu sequer conhecia até aquela data). Mas nada disso importa também. Estava esperando o espetáculo começar e por algum motivo eu olhava as pessoas chegando. Neste momento, adentrou o teatro uma pessoa familiar. Acompanhado de uma mulher, lá estava ele, com os mesmos cabelos compridos: Alceu Valença.

Bah, é comum encontrar celebridades no Rio. Mas não as mesmas celebridades, a não ser que você freqüente o mesmo lugar que elas (como a academia, ou o quiosque da praia). E aquele não era absolutamente o caso. Tudo bem, Leblon e Ipanema não são lugares que ficam distantes um do outro, mas, por favor: primeiro num boteco, depois no teatro e antes ainda no avião. Não são lugares que tenham uma relação direta.

Você pode argumentar que foram apenas duas vezes (três, se contarmos os meus pais). Mas esta é a hora em que me levanto e aproximo o dedo indicador da sua cara para dizer: na-na-ni-na-não! A partir daquele dia, acho que não houve um ano sequer em que eu não encontrasse o Alceu Valença. E para você ver como não existe hora nem lugar para que isto aconteça, nosso último "encontro" foi cerca de dois meses atrás. Em SÃO PAULO.

Estava no Filial, um famoso bar paulistano, reunido com meus colegas ex-trainees. De costas para porta, me virei quando uma das garotas disse:

— Ih, ó lá! Aquele cara! O... O... O...

— ...Alceu Valença — completei.

Se isto não é perseguição, eu não sei o que é. E o pior é que eu nem gosto de Alceu Valença.


besuntado por Vitor Dornelles 18:11

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