SUSPIRO
Quinta-feira (depois de amanhã) começo mais um frila com duração de um mês na
Folha de S.Paulo. Antes que alguém me pergunte, não haverá
banner relativo à turnê dessa vez. Minhas idas à metrópole vizinha já se vulgarizaram tanto que não me darei ao trabalho.
Pretendo continuar atualizando o blog de lá, apesar de nas últimas vezes não ter dado muito certo. Veremos como será agora.
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Como "despedida", resolvi deixar um download novo e brilhoso (o Teenage Fanclub já estava criando musgo, afinal). Trata-se da obra-prima dos Dexys Midnight Runners, "Searching For The Young Soul Rebels". Estou sem tempo para explicar melhor qual é a da banda e qual é a do disco, portanto deixarei vocês na companhia do texto de
Arthur Dapieve publicado na seção "Discoteca Básica" de uma Bizz (na época encarnada sob o nome de "Showbizz") de abril do ano 2000, que foi o que despertou meu interesse pelo álbum:
O impacto continua o mesmo após 20 anos. Do meio de uma selva de estática radiofônica, que capta fugazmente Deep Purple e Sex Pistols, entre outros, emerge uma voz que clama: "Pelo amor de Deus! Queimem isso!". Vem então o batidão carregado por uma seção de metais, old fashioned, mas feroz. O vocalista se esgoela: "Eu vou perguntar apenas mais uma vez/ Você só quer acreditar/ Este homem está esperando por algo para segurar a sua onda/ Ele jamais entendeu o significado/ Nunca ouviu falar, nunca pensou sobre/ Oscar Wilde e Brendan Behan/ Sean O'Casey, George Bernard Shaw. Samuel Beckett/ Eugene O'Neill, Edna O'Brien e Lawrence Stern". É como se um bando de punks tivesse pego a Academia Irlandesa de Letras como refém e se entrincheirado na gravadora Stax. São os Dexys Midnight Runners, em "Searching For The Young Soul Rebels", de 1980.
Os DMRs não eram irlandeses (ao contrário dos pais de seu líder, Kevin Rowland, nascido em Wolverhampton, Inglaterra), mas eram realmente tarados por soul. Eram, a princípio, um octeto de Birmingham insatisfeito com os rumos diluidores da tal new wave: Rowland (vocal e guitarra), Al Archer (guitarra), Pete Saunders (teclados), Steve Spooner (sax alto), Pete Williams (baixo), Bobby Junior (bateria), J.B. (sax tenor) e Jimmy Patterson (trombone). Narrada no encarte do CD — que exclui as maravilhosas letras, presentes no velho LP —, a história de sua formação faz pensar em "Os Commitments", livro de Roddy Doyle deliciosamente adaptado para o cinema por Alan Parker. A lógica aqui é mais ou menos a mesma de "os irlandeses são os negros da Europa e, portanto, só podem tocar soul". E, meu Deus, como tocam. Certo, é tudo vagamente paródico, aquele bando de branquelos tentando soar como se tivesse as mãos calejadas pelas colheitas de algodão às margens do Mississipi. E, no entanto, se move, funciona, empolga.
Depois de "Burn It Down", a declaração de princípios lá de cima, vem uma sucessão de soulzaços, baladas e blues puxados no órgão Hammond e nos sopros, como a instrumental "The Teams That Meet In Caffs". Prestando-se atenção às letras, tem-se quase a sensação de se estar diante de um, com o perdão da má expressão, álbum conceitual, a girar em torno do sentimento de alheamento, tanto em relação ao vazante movimento punk ("There, There, My Dear", que reclama "se vocês são tão antimoda, por que não usam plumas, ao invés de se vestirem todos iguais?") quanto ao amor eterno ("Love Part One", devastador poema declamado que conclui "às vezes eu quase invejo a necessidade mas não vejo o valor", sobre um solo de sax). Esse travo crítico jamais exclui a diversão. O grande sucesso do disco foi "Geno", vibrante homenagem ao soulman Geno Washington. "Eu vou me lembrar de seu nome", promete Rowland no verso final da canção. Nós nos lembraremos para sempre de Rowland.
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Para baixar o disco é só clicar em "ninfetas virgens amadoras" e seguir as instruções. Até mais ver.