setembro 03, 2003

 
Preparem-se. Está para começar uma série de posts que vai dar o que falar, protagonizada por um carinha do barulho que se mete em altas confusões. E que dá continuidade ao meu plano de auto-difamação pública e gratuita. Eu me refiro à incrível saga em capítulos...


VITOR E OS ESPORTES - Parte 1



Eu sou um perebão. Não, não adianta dizer que não é bem assim, pedir para eu contemporizar, avaliar melhor a situação, e coisa e tal. Eu sou decididamente um perebão. Pelo menos esportivamente falando. Não sei muito bem quando as coisas começaram a dar errado, pois na teoria eu poderia ser um bom esportista. Sou um cara alto, leve e de pernas longas. Eu poderia me dar bem jogando basquete, tênis, vôlei, fazendo natação ou atletismo. Mas não. Na fila do Destino, guichê 43, quando eu assinei a papelada que definia quais seriam minhas habilidades esportivas, por alguma razão que jamais saberemos, escolhi a opção "PEREBÃO - se dá mal na maioria dos esportes, com raríssimas exceções". E é sobre essa minha incapacidade esportiva congênita que falarei nas próximas linhas.


Homem ao mar

Eu nasci em 1980. Naquela época ainda não era moda esse negócio de bebês fazerem natação. Acho que não tinham inventado essa relação íntima com a água que os bebês carregam do útero e que os tornam nadadores natos. O fato é que a minha mãe estava à frente do seu tempo, bem como o clube que ela freqüentava - estranhamente, o Clube Militar do Rio de Janeiro. Eu tinha seis meses e fazia natação. Ou melhor, faziam por mim. O professor me mergulhava e deixava eu nadar um pouquinho até chegar à minha mãe. Ela fazia o mesmo até eu voltar para o professor. Talvez eu boiasse um pouco também. Quem sabe não houvesse até umas brincadeiras. No fundo (com trocadilho), porém, dar aula para uma bola de plástico, um graveto ou para mim não faria muita diferença. Como de fato não fez para o instrutor substituto que apareceu numa dessas manhãs no clube da Lagoa.

Minha mãe estava distraída, eu sei lá. Talvez o procedimento básico fosse o professor pegar o aluno e colocá-lo na água. Neste momento, o instrutor substituto, não sei se para mostrar serviço, decidiu que eu deveria entrar na água em grande estilo. Sem saber exatamente como, ele achou que o melhor a fazer seria me ATIRAR VIOLENTAMENTE em direção à piscina. Eu, na condição de prop, não estava preparado para nada que fugisse à rotina. Por isso, minha reação foi das mais previsíveis: engolir água e me debater. Minha mãe percebeu a tempo o que havia acontecido e me resgatou. Chorei à beça. Minha mãe quase estapeou o professor substituto e acabou me tirando da aula, já que eu não conseguia me aproximar da piscina sem abrir o berreiro.

O episódio não só pois fim ao meu futuro promissor como campeão olímpico de natação, como ainda por cima me rendeu um trauma. Até os dez anos de idade eu simplesmente não conseguia mergulhar a cabeça dentro d'água. Nenhum milímetro que passase do nariz. Tudo culpa do genial professor substituto de natação. Fala sério: você teria coragem de ARREMESSAR VIOLENTAMENTE numa piscina este bebê:



Nem eu.


Esportes radicais

Depois dessa frustrada experiência aquática, eu me dava por satisfeito em praticar apenas esportes terrestres. Uma das minhas modalidades preferidas era a "Leitura de revistas no cercadinho". Sempre que eu ficava muito manhoso ou agitado e minha mãe ainda estava cuidando da casa, só havia um jeito de me manter quieto: revistas 'Veja". Bastavam alguns exemplares para que eu ficasse ocupado por várias horas. Mas, reparem, o meu lance não era destruir as revistas ou ver quanto papel eu conseguia engolir sem morrer sufocado. O esporte consistia apenas em folheá-las, sem regras, sem tempo e sem competição. O verdadeiro esporte zen. Podem me chamar de bebê estranho.

Tão logo aprendi a andar, aos dez meses de vida, os esportes terrestres ganharam novas possibilidades. Agora eu podia vasculhar o mundo e me meter em enrascadas completamente novas. Assim que adquiri um certo controle das pernas e comecei a correr, minha modalidade favorita passou a ser a "Corridinha em volta da mesa", que consistia em - ora vejam só - correr em volta da mesa. Foi numa dessas que eu sofri a minha primeira - e mais grave - lesão esportiva. Estava na volta 137 quando um desnível no carpete fez com que eu perdesse o equilíbrio. Tombei em cima do braço. Mas não seria isso que iria interromper meu treinamento. Levantei-me e voltei a correr. Horas mais tarde, de volta ao cercadinho, meus pais perceberam que eu folheava as revistas apenas com uma mão, e soltava uns gemidos de vez em quando. Talvez a leitura não estivesse agradável. Meus pais, contudo, foram mais espertos do que eu seria e decidiram me levar ao médico. Data desse dia, com um ano de idade, a minha primeira lembrança: a máquina de raios-x descendo na minha direção. Após o exame, o médico concluiu que eu havia quebrado o rádio.

Não, mané, eu não quebrei a vitrola lá de casa. Você não estava prestando atenção? Rádio é este osso aqui, ó:



Não sei quanto tempo fiquei com o gesso. O que importa é que nenhum trauma surgiu após este incidente.
E pensar que eu quebrei um braço e não chorei. Eu era mesmo um bebê macho pra caralho. Quanta inveja de mim mesmo.
Voltei a correr em volta da mesa, e fiz isso por muitos anos. Era uma época em que o esporte ainda me atraía, pois eu podia praticá-lo sozinho, sem interferências. Porém, quando eu entrei para o Jardim de Infância, fui confrontado com uma nova realidade: a COMPETIÇÃO.


(continua...)

Se você chegou até aqui sem dormir ou pensar em furar os olhos como passatempo, parabéns! Novas emoções virão.


besuntado por Vitor Dornelles 23:20

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