NOTA ATRASADA DE VIAGEM
Em São Paulo, no dia da prova, houve uma parte do dia em que eu não tinha nada para fazer. Os paulistas adultinhos e responsáveis estavam todos trabalhando e eu tive que me virar para me distrair. Não que isso demande muito esforço. Sou uma pessoa extremamente fácil de distrair - não é à toa que eu era o bebê que "lia"
Veja. Me deixe sentado num banco com absolutamente nada nas mãos por oito horas que eu sou capaz de ficar lá sem me entediar.
Pois bem, durante as minhas horas de ócio em São Paulo, tudo o que eu fiz foi ler revistas de viagem velhas - fiquei com vontade de ir no brinquedo do Homem-Aranha da Universal - e ouvir rádio - coisa que eu não faço no Rio. Sintonizei na
Brasil 2000 e, rapaz, que surpresa! Eles não tocam "Money for nothing" do Dire Straits a cada meia-hora, nem Detonautas, CPM22 e Charlie Brown Jr. a cada quinze minutos. Não! Posso dizer que escutei a estação por cerca de seis horas e não ouvi UMA música repetida sequer. Só para os não-paulistas terem uma idéia, eles tocaram desde artistas clássicos como
Moody Blues,
The Byrds,
Crosby, Stills & Nash e
George Harrisson, até o pessoal mais recente como
Interpol,
Ryan Adams,
New Pornographers e
International Noise Conspiracy - todos solenemente ignorados por 99% das rádios brasileiras. E ainda por cima se deram ao luxo de tocar músicas não-óbvias dos chamados "clássicos". Ao invés de "My Sweet Lord" (do George Harrison), tascaram uma "What Is Life". Em vez de "Turn! Turn! Turn!" ou "Mr. Tambourine Man" (dos Byrds), mandaram "My Back Pages".
Outro detalhe é que a cada bloco de cinco ou seis músicas entrava o locutor para dizer o que havia tocado, procedimento tão simples quanto fundamental, ainda mais no caso de uma rádio cuja proposta é tocar novidade - e, nesse caso, até os clássicos podem ser considerados novidade, uma vez que a audiência está acostumada a ouvir as mesmas músicas por anos a fio.
Parece que o responsável pela mudança é o Kid Vinil, novo diretor de programação. Só espero que essa iniciativa dure. E que a importem aqui para o Rio, para que tenhamos finalmente uma rádio boa - e não aquela enganação que foi a "volta" da Fluminense.