DIANA
Eu tinha 7 anos. Como de costume, passei as férias no Hotel-Fazenda Summer Vile, em Miguel Pereira. Lá conheci Diana, uma paulistinha loira e linda como nunca mais vislumbrei. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez, descendo a escada em caracol, toda em madeira.
Imediatamente nos tornamos amigos. Vivíamos juntos, para cima e para baixo, dentro e fora do hotel, perto ou longe das cabras. O irmão mais velho dela até fazia a bondade de não nos importunar, minha irmã idem.
Um dia fomos para um corredor escuro. Eu quis beijá-la, mas meu ímpeto morreu na garganta e na hora em que acenderam a luz. Saímos correndo, talvez rindo de nós mesmos, e descemos a escada de madeira. Não sei se de mãos dadas, mas é assim que prefiro lembrar. Sua mão era macia.
Sentávamos no banco que tinha a pintura descascando, e olhávamos para o chão, pálpebras abaixadas, sem nos dizermos nada e nos dizendo tudo. Construíamos nossa infância e desenhávamos círculos com os pés, na areia misturada com a terra.
Numa tarde fomos andar de Maria-Fumaça. Diana e sua família não foram. Voltamos tarde. A locomotiva enguiçara. No dia seguinte foi a vez de Diana fazer a viagem de trem. Andávamos a cavalo quando minha irmã se assustou com meu pangaré e caiu no chão. Meus pais acharam melhor voltar para o Rio.
Fiquei na varanda desenhando o banco onde um dia nos sentáramos e foramos felizes sem nos darmos conta. Atrás, a árvore copada que não chegava a fazer sombra. O chão de areia e terra, a grama em grafite verde. Olhava para os lados e Diana não aparecia.
No rádio tocava uma música da Sandra Sá (quando ela ainda não era "de Sá") que falava sobre saudade. Entrei no carro e olhei para trás, com meu desenho enrolado nas mãos que um dia viriam a ter os dedos tortos. Olhei o hotel se afastar na poeira e apertei o papel, o mais que pude, pois sabia, sem saber, que meu coração guardaria uma saudade eterna. E nunca mais vi Diana.
Publicado originalmente em Merendeira Metafórica, número 25.